PREFÁCIO
Como sempre aviso nas redes sociais, foi somente em 2010, influenciado por um depoimento de Henry Miller – “mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso; estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias” - e pela leitura de “Mitologias” de Roland Barthes, que comecei a escrever textos opinativos sobre vários temas.
Vejo os textos opinativos como conversas informais: leves, sem grandes pretensões. Apesar disto, quando acho necessário, faço citações de autores de diversas correntes. Acredito que, assim, posso contribuir melhor para o processo de reflexão e o debate de ideias.
CANTADAS DESINTERESSANTES
Quando uma garota passa dos 25 anos e admite que só é cantada por gente desinteressante, acredito que o foco esteja equivocado: mas do que avaliar o outro, ela deveria olhar para si mesma.
Deveria começar com a pergunta: por que não é mais tão abordada por gente interessante quanto antes? A resposta é simples: o tempo passa para todos. Os olhares para uma garota de 16 ou 18 anos não são os mesmos, por exemplo, para aquelas com 30 anos.
Além disto, a própria garota mudou, não é ingênua mais, não acredita em cantadas vazias, possui experiências de várias paqueras e namoros. Depois dos 25, quase sempre, a garota viveu um longo namoro que ela imaginava que terminaria em casamento. Não foi esse o fim e, no contexto atual, ela pode se encontrar um pouco perdida.
No desespero, algumas vezes, a garota frequenta lugares que jamais iria antes. Tenta se convencer de que é melhor “ficar sozinha do que ser mal acompanhada”. Inventa coisas para fazer, como cursos de dança de salão, atividades físicas diferentes e, até em alguns casos, retorna à universidade para fazer outro curso superior. Nada disto resolve.
Algumas tornam-se religiosas e mudam completamente aquele velho estilo de vida. Buscam uma estabilidade emocional que não existe. Mesmo numa igreja, existem parceiros infiéis.
A solução não seria desistir de viver um relacionamento romântico sério e duradouro. A resposta estaria mais próxima de algo como adequar os seus desejos ao seu perfil, sua idade, e avaliar o contexto social da atualidade em que vive.
Pode usar o passado para não repetir os erros. Mas nada substitui o prazer do presente. Isso ocorre quando se olha para o futuro e assume (pelo menos para si) o que quer da vida.
MULHERES MÁGICAS
As mulheres são como os mágicos: possuem o dom de levar os olhos dos outros na direção que desejam. Ainda (como os mágicos) conhecem vários truques que tornam-se fundamentais para criar uma ilusão: cirurgias, cremes, silicones, maquiagens, perfumes, botox e assim por diante.
A objetividade dos homens é uma aliada no processo. Eles gostam do sim ou do não, ou do famoso preto ou branco. As mulheres caminham em cenários complexos e nebulosos (que são necessários para a produção das ilusões).
Todo homem que está num relacionamento (certamente) tende a acreditar que com ele seria diferente, que estaria vivendo o verdadeiro amor e que seria assim para sempre.
Não poderia ser diferente. Assim como não poderia estar mais errado.
Essa relação (como qualquer outra do passado) acabará. As declarações de amor darão lugar aos insultos e às fofocas. Logo deixarão de conversar um com outro ou manterão um contato bastante frio para quem um dia fazia parte daquilo que os outros chamavam de “casal perfeito”.
Devem existir exceções. Talvez. Mas são exceções.
A maioria precisa lidar com a realidade ingrata que significa, basicamente, aceitar algo incompleto com forte tendência para o desastre no sentido de fugir da solidão.
Uma alternativa seria inverter o jogo: conviver consigo mesmo pode ser saudável e a liberdade de estar sozinho possibilita experimentar coisas novas e conhecer pessoas diferentes.
Seria importante partir do “sozinho está bom” para, só bem depois, abrir mão de tal felicidade para assumir uma vida cotidiana de casal.
Não é simples. Não é rápido. Não é automático.
A alternativa, porém, parece ser mais interessante do que ficar refém do outro, que saberá utilizar toda carência como mecanismo de fortalecer a sua postura em qualquer jogo de poder – que atualmente pode ser chamado também de namoro.
SEXO: ATO E DISCURSO
Os adultos, em sua maioria, valorizam excessivamente o ato sexual. O “sexo em si” é a realização de um instinto natural. Só isso. Pronto.
Entretanto, muitos colocam um mero instinto como o centro da vida, como a razão de tudo. Parece que, como diria a personagem de Julia Roberts no filme “Closer”, têm 12 anos…
A vida adulta, de um indivíduo civilizado, está, teoricamente, associada aos fatos complexos, daqueles que precisam de várias interpretações e apresentam, não raramente, várias possibilidades de resposta.
Neste contexto, o sexo é tratado não como o ato “em si”, mas como uma estratégia de poder, um discurso que permite estabelecer regras para controlar o outro.
Quando os religiosos condenam a relação sexual fora do casamento ou o homossexualismo, eles não estão preocupados com o prazer ou não das pessoas e nem o que elas efetivamente fazem entre quatro paredes.
O que importa para eles é utilizar o sexo como uma estratégia de controle ou como uma forma de ser autoridade sobre o outro.
Matar o desejo do outro não gera grande prazer para uma autoridade. A satisfação vem do poder de dizer ao outro o que ele deve fazer.
Trata-se de controle, de manipulação. É, basicamente, uma questão de poder.
E o ato sexual? Quem se importa? Quem acredita? Sexo é só sexo.
E o amor, a moral, a religião, a ética e os outros valores? Esses conceitos representam exatamente isso: outros valores. Associá-los ao sexo é só uma maneira de desviar o foco do essencial e, assim, conseguir controlar o outro.
CANTADA FEMININA
Homens cantam as mulheres. Pode parecer elogio ou algo ofensivo. E o contrário? Seria aceitável a abordagem de uma mulher na paquera com um homem?
Depende, claro, do ponto de vista. Para o homem, seria bom na medida em que “facilitaria o seu trabalho”. Entretanto, ele tende não valorizar a mulher exatamente pela facilidade do processo.
Este tipo de problema é mais comum com as mulheres mais velhas porque elas deixaram de ser o alvo principal das paqueras. Isso gera um complicador: a rejeição masculina agrava a crise de autoestima feminina.
Diante de uma rejeição, algumas mulheres reagem como homens: partem para a agressão (verbal). Entre as ofensas, é comum elas questionarem a masculinidade do seu paquera com a pergunta: “você é gay?” A intenção é que ele “prove” o contrário e fique com ela naquela noite. Pode dar certo, mas dificilmente um namoro sério seria consequência deste tipo de situação.
As mulheres utilizam diversas técnicas discretas no processo de conquista. Certo ou não, isso é o esperado. Os homens, numa sociedade machista, tendem a valorizar as garotas mais jovens.
Deixar de ser o objeto favorito dos olhares masculinos significa que uma mulher não seria tão ingênua e, ao mesmo tempo, poderia usar as experiências com suas relações amorosas a seu favor no jogo de sedução.
O dilema, contudo, permanece: a educação machista não é direcionada só ao homem. Se a mulher acredita que isso (o machismo) seria a normalidade, com certeza, dará razão aos homens e terá mais dificuldade na conquista e na manutenção de um namoro.
ATRAÇÃO POR MULHER QUE GOSTA DE MULHER
Quem já viveu um “ménage à trois”, obviamente, lidou com uma pessoa bissexual. No caso de um homem e duas mulheres, pode ser bastante complicada a atração por uma garota bissexual.
Esse tipo de garota tende a gostar mais de mulheres. O problema, para o homem, é que ele, diante de uma bela garota, sempre vê uma mulher atraente e sedutora (não importa se ela se interessa só por mulheres).
Aqui a relação fica desigual porque a garota pode usar os seus jogos de sedução mesmo sem a mínima intenção de ficar com o homem. Ele torna-se um alvo fácil.
Quanto maior a impossibilidade da conquista (ela, de fato, não gosta de ter relações sexuais com homens), mais aumenta a atração e a necessidade de “realizar amor”.
O homem, neste tipo de situação, não percebe que entrou numa armadilha. Caso se apaixone pela garota que não gosta de homens, claro, transformará algo ruim em uma coisa bem pior com possibilidades reais de finais trágicos.
Isso significa também que a garota (que gosta de mulheres e seduz homens) não possui tanto poder que imaginava. Não é difícil enganar e manipular um homem apaixonado. O complicado será lidar com a sua ira ao perceber que foi só um fantoche em todo o processo e, pior, que, no final, teria “sido trocado” por uma mulher na batalha pelo amor da garota (que, de fato, sempre gostou mesmo foi das mulheres).
MULHERES DIFÍCEIS
Não existe necessidade de enfrentar o ridículo dilema de Veríssimo ao afirmar que se relacionar com mulher seria bastante difícil e o homem que não quiser, deveria procurar um gay.
É ridículo porque os problemas que surgem em relacionamentos não são causados só pelas mulheres e não são exclusivos do mundo heterossexual.
Dizer que muitos homens são machistas, insensíveis e autoritários e que tudo isso dificultaria qualquer relação, claro, é uma coisa óbvia. Existem também mulheres chatas e manipuladoras que sabem transformam qualquer namoro num inferno (seja um namoro heterossexual ou do tipo homo afetivo – a intenção aqui não é discutir esse termo).
Num sociedade moderna, foram inventadas as qualidades dos homens e das mulheres. Numa visão bem simplista (e machista), basicamente o homem precisa ter dinheiro e a mulher necessita ser atraente.
Os homens mais velhos, na crise da meia idade, sentem-se atraídos por garotas muito jovens. Síndrome da Lolita, diriam alguns.
O principal motivo da escolha estaria associado ao retorno da juventude (algo impossível de acontecer). É um jogo, uma ilusão que os velhos se apegam para não pensar na morte que se aproxima.
A escolha parece, inicialmente, perfeita:
as garotas muito jovens são lindas, ingênuas (se comparadas com as mulheres de 40 ou 50 anos) e ainda servem como troféus para mostrar para os outros como comprovação de virilidade. É tudo jogo de cena, claro.
Com o tempo, a escolha que parecia ideal, provavelmente, torna-se um problema.
Uma garota muito jovem que se envolve com um homem bem mais velho tem problema com a figura paterna. Existe, para dizer um mínimo, uma carência. Ela deseja, no fundo, algo que não teve na infância: um pai de verdade (na sua concepção). Esse pai deveria realizar todos os seus desejos, inclusive os sexuais.
Harry Stein afirma, no seu artigo, que esse tipo de mulher seria fácil de ser identificada: é aquela que ama bichos de pelúcia, adoro (em excesso) os animais e as plantas (com os quais utiliza “uma linguagem tatibitate”).
“Ela só consegue receber, e nunca dar e repartir. Precisa ser subornada o tempo todo com bombons, vestidos e agrados, para não fazer beicinho. E em 99% dos casos costumam ser passiva na cama.” (p. 124 e 156)
Já tive, na minha própria crise da meia idade, experiências com garotas deste perfil e posso afirmar que a teoria de Harry Stein não seria totalmente infundada. Houve oportunidades, por exemplo, que a passividade na cama era tamanha (eu teria que tomar a iniciativa em tudo) e as reclamações eram tantas que, num momento, eu parava tudo, deitava do lado da garota e avisava “OK, você vem por cima e faz o que quer, como quer, etc. etc. ou simplesmente vamos dormir.”
O que parecia um sonho de todo homem – uma mulher jovem e atraente – transforma-se num pesadelo. Esse é o ponto. Muitos diriam que toda relação possui pontos positivos e negativos. Mas aqui seria diferente na medida em que o homem mais velho “procurou se dar bem” com uma garota muito jovem a partir de vários motivos equivocados. Neste sentido, as consequências não poderiam ser outras. Aliás, esse senhor de meia idade pode se considerar satisfeito se o resultado da relação ficar só na irritação com os charminhos da garota. Existem casos em que as consequências são bem mais graves tanto para ele como para ela.
SEXO E REPRESSÃO
Não lembro, nas minhas leituras das obras de Domenico de Masi, de ver a teoria de filósofo francês Hebert Marcuse ser citada como algo favorável ao ócio criativo, que seria proporcionado pela revolução tecnológica do computador, que reduziria o trabalho do homem na produção e lhe daria mais tempo livre.
Roger Kennedy, em seu texto sobre a libido, por outro lado, demonstra que a filosofia de Marcuse teria muito a ver com as teses defendidas por Domenico de Masi. Kennedy, destaca, primeiro, a perspectiva freudiana:
“Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência.” (Kennedy, Libido, p. 75)
Seguindo essa linha de raciocínio, Roger Kennedy percebe uma continuidade nas hipóteses do filósofo francês:
“Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade.”(Kennedy, p. 75)
De fato, a base da argumentação de Marcuse seria utilizada posteriormente por Domenico de Masi. Quanto ao resumo de Kennedy sobre Freud, pode ter ocorrido um exagero, na medida em que a sua afirmação não valeria para toda história da humanidade. A sua tese (atribuída a Freud na primeira citação) não seria verdadeira quanto ao discurso da sexualidade na Grécia Antiga.
Numa perspectiva bem diferente do socialista Domenico de Masi e do marxista Marcuse, o nietzscheano Michel Foucault analisa a sexualidade como uma estratégia discursiva no exercício do poder.
Se para Marx a luta pelo poder teria uma perspectiva “geral” na sociedade, a partir da contradição entre a classe dominante e a classe dominada, para Foucault não existiria essa “oposição binária e global entre os dominadores e dominados.” (A Vontade de Saber, p. 90).
Michel Foucault defende uma microfísica do poder:
“o poder está em todo lugar; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares.” (p. 89)
Para Foucault, portanto, a repressão geral ao sexo não representa o ponto central do debate na medida em que existem “correlações de forças múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos e instituições.” (p. 90)
Em nenhum momento, na perspectiva dos outros citados, é negado o uso repressivo que pode ser associado ao sexo. A questão seria perceber essa problemática como uma repressão geral sobre toda a sociedade ou enfatizar as estratégias de repressão e de resistência espalhadas por todo o corpo social.
DESEJO SEXUAL
Quem tem depressão e está em crise, vai ao médico e é comum o paciente ser orientado a tomar regularmente medicamentos como Prozac ou Zoloft. O que normalmente o médico não diz no momento – o paciente nem estaria interessado pois o objetivo seria se livrar da depressão – é que um dos efeitos colaterais dos antidepressivos atingiria a sexualidade.
Existe o bem estar proporcionado, por exemplo, pela “pílula da felicidade”, o Prozac, mas, ao mesmo tempo, haveria um desinteresse quanto ao sexo. Esse tema é discutido num dos episódios da série “Sex and The City”.
No que diz respeito ao Zoloft, ele também traz o bem estar mas dificulta a ejaculação durante uma relação sexual. Alguns homens sempre tiveram pânico da ejaculação precoce e, portanto, de decepcionar as suas parceiras. O Zoloft resolve esse problema.
A questão é que o controle é definido pelo medicamento e não pela mente do homem – como defende, por exemplo, o Taoísmo – e isso faz toda a diferença. Na prática, significa que o homem em 20 relações sexuais, ele teria ejaculação em uma e não seria ele, racionalmente, que decidiria qual e nem o momento do gozo.
Em relação ao Taoísmo, Jacques Lacan apresenta uma análise interessante:
“No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É preciso reter a esporra, para ficar bem.” (Lacan, Mais, Ainda, p. 156-157)
Ou seja, enquanto nos animais a ereção e o gozo são a realização de um instinto natural, nos seres humanos, o processo civilizatório possibilita uma leitura que não se restringe à natureza, o que pode levar, como aparece na citação de Lacan, a “reter a esporra, para ficar bem.”
De fato, o “Taoísmo defende o ‘deixa-estar’ ['let-it-be'] (…) e um estilo de vida caracterizado (…) pelo cultivo da tranquilidade.” [Charles Guignon (ed.) The Good Life]
O oposto disto seria a ansiedade que no sexo pode ser traduzida, entre outras coisas, na ejaculação precoce.
Em suma, como sempre, não existe uma solução mágica que resolve tudo. Cabe aos indivíduos fazer as suas escolhas e saber lidar com as consequências. Isso é o óbvio, claro, mas parece que é assim mesmo que as coisas funcionam.
SEXO, CORPO & MENTE
De acordo com Jaques Lacan (Mais, Ainda, p. 156-157):
“Tudo isso não quer dizer que não tenha havido truques de tempos e tempos, graças aos quais, o gozo (…) pôde crer-se vindo a esse fim de satisfazer o pensamento do ser. Só que – jamais esse fim foi satisfeito senão ao preço da castração.
No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É preciso reter a esporra, para ficar bem. O budismo, este é o exemplo trivial por sua renúncia ao próprio pensamento.”
Enquanto nos animais a ereção e o gozo são a realização de um instinto natural, nos seres humanos, o processo civilizatório possibilita uma leitura que não se restringe à natureza, o que pode levar, como aparece na citação de Lacan, a “reter a esporra, para ficar bem.”
O sexo, para os homens, deixa de ser só a realização de um instinto. Torna-se uma forma de aceitação ou de controle social. Dessa maneira, mais do que tratar do corpo, o sexo lida com a mente.
A inteligência pode ser tão afrodisíaca quanto as emoções. O invisível ganha materialidade, por exemplo, com a ereção e o gozo. Olhares, cheiros, sons, toques tornam-se tão importantes como aquilo que é dito ou não. O sexo, antes óbvio e natural, passa a ser um jogo complexo, que muda o tempo todo, que não admite modelos pré-definidos. Quanto mais sofisticado, mais complexa torna-se a excitação e mais raro (e intenso) o prazer. Existiria o gozo para “satisfazer o pensamento do ser“? E imaginar que muitos acreditavam que sexo tratava só do corpo…
Sexo, na civilização, é mais do que parece ser. É gozo também. Mas, dependendo das circunstâncias, ele pode ser negado no sentido de se atingir outro objetivo.
DOMINANTES
Durante o regime militar, as cenas dos filmes pornográficos brasileiros eram, de fato, discretas principalmente porque havia a censura. Outro problema era a visão passada nos filmes e reforçada nas conversas nas ruas: uma mulher gostava de sentir dor no ato sexual.
Daí, a ideia de estupro não fazia muito sentido, pois quanto maior fosse a imposição do homem, maior seria a satisfação da mulher. Além disto, não era permitido a uma mulher “séria” sentir prazer na relação sexual – isso seria coisa de prostituta.
Portanto, de acordo com essa mentalidade, havia um quadro complexo e contraditório que, no final, favorecia somente ao homem, que assumia o papel de ativo e dominador.
Na Grécia Antiga, em outro tipo de relação, entre um homem e um rapaz, havia também a associação entre ser ativo e ser superior:
“E pode-se compreender, a partir daí, que há, no comportamento sexual, um papel que é intrinsecamente honroso e que é valorizado em pleno direito: é o que consiste em ser ativo, em dominar, em penetrar e exercer, assim, a sua superioridade.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 190)
Mesmo nesse tipo de relação, o prazer não era permitido ao indivíduo que exercia o papel de passivo na relação sexual:
“E ninguém é tão severamente condenado como os rapazes que manifestam, por sua facilidade de ceder, pela multiplicidade de suas ligações, ou ainda, por sua postura, sua maquiagem, seus adornos ou seus perfumes, que eles podem encontrar prazer em desempenhar esse papel.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 197)
Em suma, a relação sexual aparece como uma relação de dominação e os próprios termos utilizados – ativo e passivo – confirmam essa premissa. No que diz respeito ao prazer, socialmente, ele pode ser permitido ou proibido. Contudo, do ponto de vista individual, a questão é saber encontrá-lo e senti-lo intensamente.
A MULHER TRÁGICA
Boas estratégias não livram o indivíduo dos problemas. Podem, porém, ajudar na escolha do tipo de situação em que estará envolvido.
Encontrei, numa antiga revista Playboy (novembro de 1980), um artigo sobre os “dez tipos de mulheres que dão mais problemas do que prazer” (o autor é Harry Stein).
Machismo. Provavelmente. O que deve ser evitado, de fato, não é essa ou aquela mulher. Para ser feliz, é necessário evitar o contato com os seres humanos. Evitar não significa acabar com os contatos. Evitar significa simplesmente… evitar.
As pessoas, geralmente, são muito chatas e pode ser considerada razoável a possibilidade, a partir de uma “inocente” conversa, de ficar com dor de cabeça ou irritado. Na internet, pelo menos, basta “deletar” ou desligar o computador.
Voltando ao artigo de Harry Stein.
Entre os dez tipos, um pode ser considerado comum. Trata-se da trágica. O autor explica o perfil dessa mulher:
“(…) [é] incapaz de experimentar emoções que não sejam as mais dolorosas possíveis
(…) só sente feliz, quando se sente infeliz.
(…) se não tiver motivos para isso, criará alguns, num clima de piração absoluta, cheio de longos papos sofridos.
(…) [usa isso] para dar pretexto para especulares reconciliações.
(…) [inventa] novos motivos para sofrer.
(…) [dá] margem a um enorme sofrimento, mil papos ‘fundamentais’ e, finalmente, a uma fulminante reconciliação.”*
O perfil da trágica está associado ao universo das novelas brasileiras.
(*) Harry Stein. Dez tipos de mulheres que dão mais problemas do que prazer. Playboy, Novembro de 1980, p. 156.
SUICIDE GIRLS & TUMBLR
Pela minha profissão, tento teorizar, compreender por que tal coisa acontece, mas também vivo essas experiências novas – gosto de algumas e de outras não. Muitas, confesso, eu evito. Não é preconceito. É falta de interesse, de desejo, apesar de respeitar as escolhas de todos.
Nas relações sociais, o novo é fundamental para mim. Talvez por isso me interesso tanto pelo estilo das Suicide Girls. Na minha opinião, elas representam mais do que um bando de ninfetas tatuadas que posam nuas. Basta seguir qualquer uma delas no Tumblr para perceber que existe algo mais. Elas rompem com o tal padrão de beleza e, até agora, evitam impor uma única forma de se apresentar. Pode ser magra, gorda, usar óculos, ser hetero ou homossexual ou os dois… Adoro os cabelos coloridos: rosa, azul, verde… Enfim, elas demonstram que algo acontece e o que aparece nos seus corpos seria apenas a ponta de um “iceberg” de uma transformação comportamental e mental muito maior.
Já disse que associar as Suicide Girls à necrofilia é uma bobagem. Existe uma relação com o instinto da morte, mas Freud já dizia que isso acontece com todo indivíduo. Elas se aproximam das Gothic Girls, que também me atraem muito, com suas roupas negras, maquiagem pesada, um estilo de música específico e a fascinação pela morte e por cemitérios.
Acredito que essas garotas representam algo novo na atualidade. Seria bom ou ruim? Quem se importa? É gostar ou viver a sua vida diária, com o seu terno e gravata, no escritório, tomando um chopp depois do expediente com os colegas e, em ocasiões especiais, comprando uma joia na H-Stern (ou na Vivara) para a sua namoradinha pequeno-burguesa (que certamente reclamará do modelo escolhido).
Sim, existem mudanças. Existem escolhas. Existe uma vida que não espera.
MULHERES NO FUTEBOL
A luta pela igualdade entre os sexos permitiu que as mulheres assumissem profissões que eram tradicionalmente associadas ao universo masculino. Isso aconteceu mesmo em um ambiente machista como o futebol.
Uma gandula – Fernanda Lima – ganhou destaque numa partida entre o Vasco e o Botafogo (em 2012) quando
“(…) devolveu rapidamente uma bola que havia saído pela lateral. A bola parou nas mãos do seu ídolo, Maicosuel, que bateu o lateral para Márcio Azevedo, que fez o cruzamento para o gol de Loco Abreu (…). Botafoguense de carteirinha, Fernanda participou da volta olímpica (…).”*
Na época, associada ao fato inusitado, a gandula teve aquilo que Andy Warhol chamou de “15 minutos de fama”…
“In 1968(…) He squinted ahead and declared that ‘in the future, everyone will be world famous for 15 minutes’.”**
Fernanda Lima, bonita e com 23 anos, deu entrevistas e suas fotos, algumas em ensaios sensuais, fizeram sucesso na internet.
Outro fato, recentemente, chamou a atenção. O técnico de um time de Santa Catarina, Celso Teixeira do Juventus,
“(…) reclamou com a auxiliar Maira Americano Labes e foi expulso pelo árbitro Paulo Henrique Godoy Bezerra.
O cartão vermelho foi mostrado aos 16 minutos do segundo tempo e o treinador precisou ser retirado de campo pela Polícia Militar. Na saída, segundo a súmula da partida, teria dado um recado à bandeirinha:
- Vou sair, sua gostosa – escreveu Bezerra.”***
Aqui chamou a atenção o fato de que mesmo com raiva da bandeirinha (que teria sido a causa de sua expulsão), o técnico a chamou de “gostosa”. Em outras palavras, mesmo irado com a atitude da profissional, ele não conseguiu xingá-la com uma palavra feia, afinal, o que saiu de sua boca foi: “sua gostosa”. Tratava-se, na verdade, do reconhecimento da beleza da garota mesmo discordando da atitude profissional dela. Em suma, ainda causa confusão aos homens ter de se posicionar, em ambientes competitivos, diante de belas mulheres e não dos antigos rivais, diante dos quais, aliás, eles sabiam exatamente o que falar e o que fazer.
(*) Gandula musa ajuda no primeiro gol e participa da volta olímpica alvinegra. globoesporte.com. 29-04-2012. http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2012/04/gandula-musa-ajuda-no-primeiro-gol-e-participa-da-volta-olimpica-alvinegra.html
(**) Josh Tyrangiel. Andy Was Right. Time. Dec. 25, 2006. http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1570780,00.html
(***) Em súmula, juiz cita recado de técnico a auxiliar após expulsão: ‘Sua gostosa’. globoesporte.com. 09-04-2014. http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/campeonato-catarinense/noticia/2014/04/em-sumula-juiz-cita-recado-de-tecnico-auxiliar-apos-expulsao-sua-gostosa.html
AS REBELDES
Posted on February 15, 2014 by profelipe
Após a morte do cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Andrade, os Black Blocs ficaram mais ainda em evidência.
Neste último momento, uma personagem entrou em destaque (além dos responsáveis pela morte): Elisa Quadros Pinto Sanzi, a “Sininho”. Ela aparenta um jeito delicado, é bela mas a sua “práxis” parece ser de uma guerreira. Desde as manifestações de junho de 2013, ela participa e luta ao lado dos Black Blocs.
Sininho não foi a primeira. Antes, para ilustrar uma reportagem sobre o tema, em20/08/2013, “Emma, de 25 anos, integrante dos black blocs no Rio” apareceu na capa da revista Veja. Depois, foi a vez de Daniela Ferraz, a “Pantera”, ser capa da revista Época na edição de 08/11/2013. Os Black Blocs ficaram revoltados com os conteúdos das matérias tanto da Veja como da Época.* **
Agora, na edição de 15/02/2014, o destaque da capa da revista Veja foi a Sininho. Pelo perfil editorial da revista e pelo que foi escrito sobre ela e os Black Blocs, mais uma vez eles não ficarão satisfeitos com a maneira como foram tratados pela grande mídia nacional.
A intenção, aqui, não é avaliar a participação política dos Black Blocs. O objetivo é tentar discutir como garotas belas e jovens envolvem-se em movimentos sociais violentos e, como os rapazes, acabam sendo reprimidas por isso (inclusive com a prisão).
Tal fato não pode ser explicado só pela questão da classe social, afinal, a Sininhomorou (e mora) em Copacabana, frequentou faculdade e domina técnicas de oratória e de liderança, mas, por outro lado, Dani “A Pantera” possui “31 anos, é mãe e ex-presidiária.” (Época, 08/11/2013)
Talvez o perfil de Emma ajude a entender melhor o envolvimento das jovens com os Black Blocs. Nas suas críticas ao conteúdo apresentado pela revista Veja, entre outras coisas, ela afirmou:
“Black bloc não é grupo e sim uma tática de manifestação. Não tenho como ser integrante de uma coisa que não existe.” *
No que diz respeito “ao relato sobre consumo de drogas e sexo promíscuo”, Emma falou:
“‘Entre um baseado e um gole de vodka, (…) vinho barato e cocaína !’ Onde isso?” *
Em o Pragmatismo Político, espaço que divulgou as reclamações da militante, foi destacada a questão da beleza feminina:
“As fotos nas quais ela aparece (capa e miolo) são assunto polêmico. Ainda que através de uma elíptica fenda apenas se revelem os olhos azuis, sobrancelhas finas e um pouco do nariz, todos de traços sugestivamente médio-orientais e de ar misterioso, fica evidente que Emma mexe com a curiosidade.” *
A resposta de Emma foi categórica:
“Obrigada, mas a reportagem não mexeu com meu ego. Não adianta nada a foto estar bonita se o conteúdo é escroto. (…) Não vendi foto nenhuma, publicaram isso sem minha autorização.” *
Quando alguém insinuou algo como um pôster da garota, Emma afirmou:
“Pôster o caralho, já falei para parar com a idolatria. Não vim aqui para mostrar a bunda, vim mostrar o que tenho no cérebro.” *
Essa última frase talvez possa resumir o perfil das militantes radicais. Elas têm simpatia pelo anarquismo e, assim, são contra o Estado, a hierarquia, a autoridade e, claro, as visões simplistas daquilo que deveria ser o papel da mulher na sociedade.
(*) Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/menina-black-bloc-rebate-materia-de-capa-da-revista-veja.html
(**) Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/lider-black-bloc-inventado-pela-epoca-enfurece-ativistas.html
OUTRAS FONTES:
Época: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/bblack-blocs-afirmam-que-sao-financiadosb-por-ongs-nacionais-e-estrangeiras.html
Época: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/bpor-dentro-da-mascarab-dos-black-blocs.html
Tribuna Hoje: http://www.tribunahoje.com/noticia/94033/politica/2014/02/14/ativista-sininho-e-chave-do-quebra-cabeca-dos-black-blocs.html
Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pagina-do-black-bloc-faz-ameaca-a-quem-revela-detalhes-do-grupo
Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-black-blocs-tem-agora-uma-morte-sobre-os-ombros
Veja: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/o-bando-dos-caras-tapadas-quem-sao-os-manifestantes-baderneiros-do-black-bloc-que-saem-as-ruas-para-quebrar-tudo/
Zero Hora: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2014/02/quem-e-sininho-a-ativista-que-virou-personagem-nos-protestos-dos-black-bloc-do-rio-4419794.html
GAROTAS E COBRANÇAS DA SOCIEDADE
Os músicos de heavy metal, antes, eram os acusados pelos suicídios dos adolescentes, como foi o caso da música “Suicide Solution” do Ozzy Osbourne. O vocalista chegou a ser processado por causa do suicídio de dois jovens nos Estados Unidos, mas foi considerado inocente.*
A internet, atualmente, aparece como a vilã neste processo. O Tumblr é acusado de abrir espaço para as pessoas que elogiam o suicídio e a automutilação.
Entretanto, o problema é mais complexo. Antes de acusar músicos e websites, os pais deveriam fazer uma autocrítica e verificar o que levou os filhos a optar por determinados estilos de música ou mesmo escolher navegar em determinados websites.
Esta polêmica foi retomada em janeiro de 2014, na Inglaterra, com o suicídio da adolescente Talluah Wilson, de 15 anos.
Para a mãe, a filha tinha uma vida dupla: uma “real”, como “dançarina com um futuro promissor no Royal Ballet School;”** e a outra personalidade seria “virtual”, criada pela garota no Tumblr, onde ela elogiava o excesso de álcool e cocaína e postava fotos de automutilação.
A mãe dá a entender que a culpa do suicídio seria deste tipo de espaço na internet que induziria os jovens ao suicídio.
No entanto, neste caso específico, a adolescente “havia sido diagnosticada com depressão clínica”, uma doença que pode levar ao suicídio. No Twitter, as mensagens (de Talluah Wilson) foram claras:
. “Eu nunca serei linda e magra.”
. “Eu não tenho plano para o meu futuro.”
. “Por que eu deveria ficar [por aqui] se ninguém fica comigo? Para mim, já deu. #suicide #goodbye.”***
Além das doenças genéticas (como a depressão), deve ser considerada a cobrança que a sociedade faz em relação às garotas: devem ser sempre belas e magras, devem ser as melhores profissionalmente, devem ser bem casadas e ter filhos, entre outras exigências.
Em um contexto tão estressante, muitas adolescentes acabam desistindo de viver porque percebem que nunca serão boas o suficiente e nunca agradarão totalmente aos próprios pais e todos aqueles que aparecem como pessoas importantes para elas. É triste. É muito mais complexo do que buscar colocar a culpa numa música ou num website.
(*)http://www.songfacts.com/detail.php?id=1303
(**)http://www.dailymail.co.uk/news/article-2544080/She-clutches-toxic-digital-world-Mother-dancer-15-threw-train-creating-online-cocaine-fantasy-warns-parents-beware-children-internet.html
(***) Frases do Twitter no original:
. “I will never be beautiful and skinny.”
. “I have absolutely no plan for my future.”
. “Why the f*** should I stay if no one around me stays for me? I’m done.” #suicide #goodbye.’
OSTENTAÇÃO E BELEZA
Existe uma música do Queen que o título aparece em forma de pergunta: “É Este o Mundo Que Nós Criamos?” São apresentadas, na letra, situações injustas que acontecem em nosso planeta:
“Você sabe que todo dia nasce uma criança indefesa
Que precisa de um pouco de carinho dentro de um lar feliz…
Em algum lugar um homem rico está sentado em seu trono
Esperando a vida passar…”*
As pessoas já se acostumaram com tais imagens e por isso elas aparecem como obviedades. Entretanto, o abandono de criança e a ostentação do rico geram problemas mais graves. Aline Tostes levanta algumas questões neste sentido. Ela analisa a associação do “funk ostentação” com a venda de drogas. Em seu artigo, uma temática apontada seria a ausência do pai (a figura paterna, a imagem da autoridade):
“(…) [existe] a falta de base familiar. (…) a maioria dos adolescentes não conhece o pai. Vivem com as mães, avós e tias, que muitas vezes passam o dia na labuta e eles têm que dividir as responsabilidades da casa.”**
A ausência da figura do pai na educação da criança (e do adolescente) torna-se decisiva quanto ao respeito ao outro principalmente em relação às autoridades (como professores, policiais e juízes).
A letra da música do Queen ainda se refere ao “homem rico (…) sentado em seu trono.”* Ou seja, existe um elogio da ostentação na sociedade. Sem uma formação adequada, essa ideologia soa perfeita ao imediatismo e às ilusões dos adolescentes. É neste contexto que deve ser compreendido o chamado “funk ostentação”:
“O novo funk estourou com tamanha força na Baixada Santista que os estilos pancadão e proibidão, apelos ao sexo vulgar e ao uso de drogas, influenciados pelo Miami bass e pelo rap americano, foram abolidos dos palcos. A batida que agora funde classe media e periferia no litoral sul paulista é outra: ‘vida é ter um Hyndai e uma Hornet / 10 mil pra gastar / Rolex e Juliet’. A rima de MC Danado mostra que o funk ostentação é ‘top do momento’, como já sugere o título da sua música com mais de 200 mil visualizações no You Tube. Para quem não entendeu a letra do MC, antes conhecido como André Moura, office boy de uma sapataria da Zona Leste de São Paulo, ele fala das marcas de carro, moto, relógio e óculos, além do dinheiro.”*
Para manter esta ostentação, além do envolvimento com o tráfico de drogas, os jovens roubam lojas (isso esteve associado aos “rolezinhos” em shopping centers) e outros estabelecimentos. Existem casos que os adolescentes roubam especificamente as lojas de grandes marcas, levando os produtos caros e não “focando” mais no dinheiro do caixa. Roubam carros só para passear nas “baladas”.
A imagem é o ponto central na atualidade. Não precisa ser rico, mas é importante parecer que é rico. Isso leva a outro problema: a ostentação pode causar inveja, o que aumenta a rivalidade entre os jovens. Trata-se da velha questão: o que você provoca no outro?
Tal situação chegou ao absurdo de, nesta semana, uma garota de 15 anos ser agredida fisicamente na escola (por outras meninas) por “ser bonita”.***
A rivalidade não está na defesa de ideias e valores. A violência aparece como resultado do que uma imagem de uma pessoa provoca nos outros.
A ausência de valores adequados para o convívio em sociedade, o excesso de individualismo e a valorização dos bens materiais só contribuem para agravar a situação.
(*) Is This The World We Created? Queen. http://letras.mus.br/queen/86804/traducao.html
(**) Aline Tostes. Funk ostentação é a isca para menores ingressarem no tráfico de drogas em Florianópolis. Notícias do Dia. 10/04/2014. http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/115638-funk-ostentacao-e-a-isca-para-menores-ingressarem-no-trafico-de-drogas-em-florianopolis.html
(***) Garota é espancada dentro de escola em Limeira por ser bonita, afirma pai. G1 globo.com. 09/04/2014. http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/04/garota-e-espancada-dentro-de-escola-em-limeira-por-ser-bonita-afirma
CASAIS & PALAVRAS
As mulheres são sutis. Os homens são explícitos. As mulheres não falam o que desejam, enviam sinais. Os homens são óbvios e não disfarçam o que querem. Veja o exemplo de Barbara De Angelis:
“Muitas pessoas evitam falar durante o sexo, porque isso revelariao desejo e as deixaria expostas ao outro. Eu posso sentir que o toque do meu namorado me faz sentir excitada, mas se eu falar ‘o seu toque me deixa excitada’ então eu teria certeza que ele saberia e, assim, me sentiria vulnerável. As minhas palavras dão a ele poder sobre mim, esse poder vem do fato que ele sabe que a sua sedução funcionou comigo na medida em que eu o desejo.”*
Barbara De Angelis usa “pessoas” no início, quando deveria utilizar “mulheres”. No resto da citação, ela assume que seria uma mulher diante de um homem e diz que a mulher evita falar pois isso daria poder ao homem na medida em que ele saberia que “sua sedução foi certeira e que a mulher o deseja.” Poder e saber, diria Michel Foucault.
A questão é: qual seria o problema dele saber que ela o deseja? Falar significaria dar ao outro a certeza de seu poder. Mas, o sexo não deveria estar relacionado a algo emocional e a perda da razão?
O problema é que muitas pessoas, não só as mulheres, usam o sexo como um meio para atingir um objetivo (casamento, dinheiro, um carro novo…) e não percebem que o sexo existe em si, como algo natural e agradável para os envolvidos. É tão bom porque existe a necessidade biológica da procriação, da preservação da espécie… mas na hora do ato, as pessoas não deveriam pensar nisso (nem em outra coisa) e sim deveriam sentir o que a natureza proporciona na “união de dois corpos”. Qualquer reflexão sobre os motivos que levariam aquele casal para a cama deve ser feita antes do sexo. Afinal, na hora do amor, “fuck the rest.”
(*) Barbara De Angelis, em 1995, no seu livro: "Real Moments for Lovers" (apud, James R. Petersen, Playboy, September 1996, p. 42).
DILEMAS & “D.R.”
Algumas mulheres adoram testar os homens.
O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: “é um sinal… posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?” Na dúvida, ele pergunta: “posso?” Ela responde: “você quem sabe.” O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR (Discutir a Relação), deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez… talvez… Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e uma mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: “eu não faço a mínima ideia.” Estive nos tais três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
VER E SER VISTO
O indivíduo é observado o tempo inteiro (desde uma pessoa comum até os líderes políticos mundiais). Existem câmeras em todos os lugares, com permissão ou não, filmando tudo e todos. Mesmo em casa, você pode estar sendo visto, sem saber, enquanto usa o computador ou faz qualquer outra atividade. Existe tecnologia para isso, como ficou claro no escândalo recente de espionagem dos Estados Unidos.
O uso da internet facilitou bastante este processo. A imagem de qualquer pessoa “corre o mundo” ao vivo, na hora. Alguns reclamam que não existe mais privacidade. É verdade e reclamar não resolve coisa alguma. É assim e pronto pois, como foi dito antes, existe tecnologia para isso e o ser humano é capaz de (quase) qualquer coisa.
Uma questão que surge, neste contexto, é como a pessoa quer “ser vista”. A sua imagem pode ser produzida, as fotos que ela coloca no facebook são editadas e selecionadas. Não existe espaço para ingenuidade.
O indivíduo na rua, no espaço público, com suas roupas, jeito de andar, entre outras coisas, passa uma imagem para os outros. Ele pode ter consciência disto ou não. As pessoas podem acreditar naquela imagem ou não. Não dá para ser invisível. O espaço público, como diria Hannah Arendt, é o espaço da aparência.
O mesmo processo acontece na internet. Ser visto significa ser percebido como um ser com algumas características (que, eventualmente, estarão enquadradas num perfil, num padrão). O problema fundamental tanto na rua como na “vida on line”, claro, seria qual imagem passar, como a pessoa gostaria de ser vista pelos outros. Ela pode assumir vários “personagens” de acordo com o público que ela deseja atingir. Toda a construção de cada imagem pode dar resultado ou não.
Eis aqui o outro lado do processo: acreditar na aparência, de maneira imediata, é ingenuidade. Tudo deve ser problematizado. Parecer não é ser. Tudo que é visto (pessoas, fotos, vídeos, ambientes, entre outras coisas) deve ser percebido com um olhar de desconfiança. Tudo deve ser questionado, como se fosse um trabalho de detetive, o que significaria “aquilo”, “por que está ali”, “por que chamou a atenção” e assim por diante.
Ver é questionar. Viver é problematizar. A lógica de tudo isso pode ser descartada quando prevalece, no indivíduo, o lado emocional, afinal, ele não é só “uma máquina racional”. Faz parte do jogo da civilização.
Além de saber o que deseja mostrar e desconfiar do que vê, a pessoa deve tomar cuidado com o que realmente pretende saber. É dito que ler sobre tragédias coletivas pode causar crises de depressão ou de ansiedade. Isso é importante. Saber “tudo” sobre os outros pode não ser algo interessante. Pense, por exemplo, no fim de um namoro. Mesmo sem assumir, os dois lados desejam saber se o outro está feliz ou se arrumou outra pessoa ou qualquer outra coisa neste sentido. O outro pode produzir (sobretudo nas redes sociais) imagens de que está feliz e bem melhor do que na época do namoro. Não existe novidade nisto. Uma festa pode estar horrível e a “boite” vazia, mas, mesmo assim, quem está no lugar consegue produzir uma imagem de que tudo estaria maravilhoso e, assim, causa inveja em quem não está lá.
O homem é, antes de tudo, um ser natural, com instintos como qualquer animal. Ser civilizado (racional) significa contrariar (ou, no mínimo, problematizar) esses instintos. O egoísmo, na sociedade, precisa ceder espaço ao seu oposto, o altruísmo. Claro que não dá certo e é por isso as pessoas são tão neuróticas e mal resolvidas.
A problemática central, em resumo, seria lidar com a razão e a emoção em si mesmo, com os conflitos internos do Id, ego e superego e, nas relações com o mundo exterior, saber administrar a realização do próprio desejo com o respeito ao espaço do outro. Simples? Não. Entretanto, não existe outro jeito.
FOTÓGRAFOS
Adoro imagem. Fiz, quando era graduando, uma disciplina de Fotografia na UFU (quando não existia máquina digital). Sempre gostei de fotos de belas mulheres (não necessariamente nuas).
A primeira Playboy que comprei foi em 1978, quando a “sexy symbol” daquele momento era Farrah Fawcett. Ela recusou posar nua para a revista. Só aceitou no final da vida, quando estava viciada em drogas e sofria de uma grave doença. Na época, deu uma entrevista desconcertante (drogada) na TV norte-americana. Entretanto, não deixou de ser o principal ícone feminino da década de 1970.
Neste período, a atriz Sandra Bréa, aqui no Brasil, era o símbolo de bela mulher. Foi casada com Antônio Guerreiro (que nunca considerei um grande fotógrafo). No “cenário das mulheres nuas”, J.R. Duran era imbatível no país. Nos Estados Unidos, eu gostava bastante do trabalho do Ken Marcus para a Playboy. Depois da década de 1990, surpreendentemente Ken Marcus começou a tirar fotos de BDSM (o trabalho ainda é bom, mas prefiro a fase anterior).
Voltando a Sandra Bréa, ela também teve um fim trágico: morreu de AIDS. Vi entrevistas dela no final da vida e fiquei impressionado em ver a maneira como ela falava da doença e a falta de rancor diante do que o destino havia lhe reservado.
As pessoas adoram falar mal do Sebastião Salgado. Inveja. Bobagem. Vi a exposição dele “Os Trabalhadores” no MASP na década de 1990. É o maior fotógrafo brasileiro (na minha opinião).
Fora do Brasil, não existe conversa: o melhor de todos é mesmo Henri Cartier-Bresson.
TOTALITÁRIOS
Por que, aqui no Brasil, as pessoas colocam fogo nos indivíduos que moram na rua?
Por que, nos países europeus, diante de uma crise econômica, a culpa sempre recaí sobre os imigrantes?
Primeiro, aparece a velha estratégia de colocar a culpa na vítima:
“Os desamparados tornam-se, na nossa mente, a causa dos problemas deles mesmos, e as dificuldades que enfrentam, uma evidência da sua inferioridade moral.” (David Bell, p. 74)
Segundo, no que diz respeito aos europeus, como exemplo, basta lembrar o discurso de Adolph Hitler, que defendia que os alemães seriam capazes de vencer qualquer nação:
“(…) cuja consciência de raça [estaria] infectada por estrangeiros.” (A Arte da Entrevista, p. 117)
Terceiro, para assassinar, torturar e criar “campo de concentração”, é necessário criar a ideologia de que quem sofre não seria “gente”:
“Quanto maior a degradação, maior a probabilidade dele ser considerado não humano e, portanto, indigno da preocupação habitual com pessoas.” (David Bell, p. 74)
Assim, a maioria resolveria um problema fundamental: se não é gente, não existe culpa:
“Dessa perspectiva, tais grupos podem ser tratados impunemente sem nenhum sentimento de culpa.” (David Bell, p. 74)
Tudo isso, claro, lembra o discurso reacionário de um personagem no filme “V for Vendetta”:
“Eu estava lá, vi tudo. Imigrantes, muçulmanos, homossexuais, terroristas. Doenças. Eles tiveram que ir.”*
Entretanto, as experiências totalitárias na história demonstraram claramente que esse não é o caminho.
(*) ”I was there, I saw it all. Immigrants, Muslims, homosexuals, terrorists. Disease-ridden degenerates. They had to go.”
FORA CINQUENTÃO!
Existe uma mentalidade geral na sociedade que defende a tese do “Fora Cinquentão!”
Quem passa dessa idade, é visto pelos outros sempre com conceitos negativos. Quando alguém quer agradar, diz algo e logo vem com um “mas você não parece que tem essa idade”.
Na história do rock, falar em idade significa falar em Rolling Stones.
O seu guitarrista, Keith Richards, sempre foi o primeiro da lista, durante décadas, dos que iriam morrer de “overdose”. Entretanto, mesmo como todos os seus excessos, continua vivo.
Keith Richards é uma exceção. No que diz respeito aos cinquentões (ou mais velhos do que isso), todos que conheço estão em crise. Alguns, claro, são alienados demais para admitir isso. Mas, não tem jeito, depois dos cinquenta, vem o declínio – em todos os sentidos – em direção à morte. Como disse um amigo, começa um caminho, na vida, descendente.
É ruim? O processo é chato, mas o resultado final – a morte – aparece como uma recompensa. Afinal, como diz uma música do Mötörhead:
“Eu não quero viver para sempre.” (“I don’t want to live forever”)
Isso não quer dizer, obviamente, que o indivíduo irá morrer amanhã. Para citar uma fala do Marv, um personagem de história em quadrinhos do Frank Miller, em “A Cidade do Pecado”:
“Eu sabia que não seria tão simples assim…”
É isso.
INFÂNCIA
Ao tornar-se civilizado, o homem tornou-se complexo e contraditório. Deixou de realizar automaticamente o seu desejo. O preço dessa mudança é pago por cada indivíduo até hoje.
Freud já alertava para o conflito entre o desejo da pessoa (egoísmo) e o interesse da sociedade (altruísmo) que existiria em cada indivíduo. O resultado deste conflito pode, claro, tornar a pessoa infeliz, dissimulada e com um grande medo do passado ou do futuro.
Não é possível que o homem entenda o presente sem relacioná-lo com o passado, sobretudo com o que aconteceu na infância. Ela é a base de tudo.
No depoimento de um agente do FBI no DVD do filme “Silêncio dos Inocentes”, analisando os casos reais nos Estado Unidos, ele afirma:
“Na minha pesquisa, não acredito que alguém nasce como um ‘serial killer’ (assassino em série). Com ‘serial killers’ ou estupradores, existe alguma experiência na infância.”
Na história do filme (“O Silêncio dos Inocentes”) , uma agente do FBI, a personagem Clarice, precisa da ajuda de um psiquiatra que encontrava-se preso por vários crimes e era conhecido como “canibal” ou Dr. Lecter. Ela necessitava da experiência (e inteligência) desse psiquiatra para capturar um “serial killer”, que seria apresentado por Dr. Lecter da seguinte maneira:
“Nosso Billy não nasceu um criminoso, Clarice. Ele tornou-se um após passar por anos de abuso. Billy odeia a sua própria identidade e ele acredita que isso o transforma em transexual. Mas a sua patologia é mil vezes mais selvagem e terrível.”
Dois autores, sem desconsiderar a importância da infância, procuram, de certa forma, ir além dos pressupostos de Freud:
“(…) Stolorow e Atwood referem-se a outro modo de impedir que acontecimentos ruins na infância cheguem à consciência, não por serem reprimidos, mas porque não são aprovados por figuras importantes no meio da criança e portanto não se pode reconhecê-los nem pensar neles.”
Contudo, Stolorow e Atwood admitem que esses traumas ocorridos na infância podem, um dia, aparecer na consciência da pessoa:
“Os autores apresentam o exemplo de uma moça de 19 anos que sofreu um colapso psicótico.
Quando a garota era mais jovem, o pai a violentara por muitos anos. Era o segredo de pai e filha. (…) o abuso sexual contrastava enormemente com a aparência externa de normalidade: os membros da família eram bem-vistos na comunidade e frequentadores assíduos da igreja. Portanto, havia uma acentuada dissociação na família e na vivência da moça.”
Em suma, o trauma que aconteceu na infância – que “não poderia ser reconhecido” – em algum momento, abandona o inconsciente e torna-se claro para a vítima. Muitas vezes isso ocorre no início da vida adulta e no caso do exemplo citado o resultado foi um colapso psicótico.
UM ESTRANHO MOVIMENTO
Uma pessoa diz que tem uma ótima proposta para lhe oferecer (no fundo, porém, ela sabe que você não poderá aceitar tal proposta)
Posteriormente, a mesma pessoa diz que você teria sido mais feliz se tivesse aceitado aquela proposta e que fulano aceitou e está muito feliz.
Diz que você está insatisfeito porque quer e que ainda bem que você a tem como sua amiga, uma pessoa que só quer o “seu bem”.
Parece que subestimar a inteligência do outro seria uma espécie de “hobby” para alguns indivíduos.
O pior é quando esse tipo de pessoa combina, nas suas costas, com vários indivíduos para defender a mesma tese.
Trata-se de uma conspiração, que todos parecem querer o “seu bem”, mas, de fato, sabem que estão te sacaneando e que qualquer coisa que você falar parecerá que você é simplesmente um ingrato que não reconhece o “bem” que eles desejam para você.
QUEM ENGANA QUEM?
Algumas pessoas acham que me exponho demais nos textos opinativos.
Primeiro, vai uma sugestão: leia as entrevistas de Charles Bukowski sobre os questionamentos se os seus livros seriam autobiográficos.
Segundo, quem te garante que o que você lê foi um fato ou uma fantasia (ou os dois).
Terceiro, pessoas desse tipo juram que vestindo terninhos e seguindo os conselhos da revista Você S.A., elas conseguem enganar os outros e esconder os seus defeitos e fragilidades… por favor!! Ninguém engana ninguém! Não é porque um bando de puxa-sacos supostamente avalizam a sua fantasia, que isso signifique que o seu mundo – poder, dinheiro e sexo – seja verdadeiro e real.
RAZÃO
Todo animal nasce com uma espécie de “saber genético”, que o ajudará no seus atos e nas suas escolhas, que estará relacionado ao seu medo, ao seu instinto.
O homem, além de ser um animal, com essas características, é um ser civilizado, o que reforçaria vários conflitos em sua existência: com a natureza, com os outros indivíduos e com ele mesmo.
Ele define a razão como a base da civilização. A negação da razão seria a loucura.
Na medida em que o discurso racional não apresenta todas as respostas para a sua existência, ele inventa algo “externo e superior” à civilização, que explicaria o que não tem lógica e apresentaria as famosas respostas sobre o que aconteceria antes do seu nascimento e depois de sua morte. Atualmente, o homem tenta conciliar essas duas formas de conhecimento (apesar de cada uma possuir os seus próprios critérios de definição do saber): o científico e o teológico.
ALGO ERRADO
Existe algo errado na pessoa que:
* usa silicone, botox, faz todo tipo de cirurgia plástica e acredita que ninguém perceberá a sua verdadeira idade;
* acha que os vizinhos, familiares e amigos não percebem o óbvio e acreditam na sua inocência e no seu discurso oficial;
* compra imóveis e carros mas precisa colocá-los nos nomes dos parentes;
* acredita que acumular dinheiro e bens materiais resolverá todos os seus problemas e esquece que a morte é uma certeza para todos;
* compra um apartamento financiado num prédio importante mas tem dificuldade de pagar o condomínio;
* tem pena dos outros mas se recusa a avaliar verdadeiramente a sua situação;
* acredita que ter um filho garantirá o casamento;
* tem mais de 50 anos e usa o trabalho em excesso para não pensar nofuturo: a morte;
* compra carro zero, mas financiado em 36 meses ou mais contando com a certeza do seu salário;
* não pensa na morte e acha que isso resolve o problema;
* ficou desempregada e aceita outro trabalho que paga (muito)abaixo do mercado;
* foi abandonada pelo marido ou esposa; tem mais de 40 anos e acredita que o mercado a tratará do mesmo jeito;
* abriu mais de 3 empresas e todas faliriam;
* formou, trabalha, tem mais de 30 anos e ainda mora na casa dos pais.
INVENÇÕES
A insegurança de uma pessoa pode ser percebida na sua excessiva preocupação com a inveja e o mau-olhado do OUTRO.
Ela atribui um poder ao OUTRO que ele efetivamente não tem.
Normalmente, a sua resposta para tal situação também está associada ao OUTRO, só que agora seria ao sobrenatural ou à religião.
Nos DOIS casos – a invenção do problema e da solução – não teriam a ver com a responsabilidade da própria pessoa.
Em suma, ela inventa, sofre, busca uma solução e se coloca como objeto de tudo isso que ELA CRIOU.
PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA
Com base no saber científico, é afirmado que existe uma predisposição genética à depressão. Muito antes das pesquisas atuais, Schopenhauer (L’Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 98) já falava em predisposição ao suicídio:
“A herança da susceptibilidade ao suicídio mostra que, na determinação de tirar sua própria vida, a parte subjetiva é certamente o mais forte.” *
Quanto ao conhecimento atual, os “pesquisadores na Washington University School of Medicine em St. Louis e no King’s College em Londres” afirmaram que estaria na genética a causa da depressão. Ou seja:
“geneticamente, há uma combinação no DNA no cromossoma 3 associado com a depressão.
(…) A análise da família revelou um histórico de depressão em muitos dos que enfrentaram essa doença, mas em poucos dos que não a enfrentaram. Há uma região no DNA com noventa genes onde parece que essa predisposição se origina. ” **
O que realmente importa é admitir tanto uma predisposição genética à depressão quanto uma predisposição ao suicídio. Em outras palavras, alguns indivíduos nascem tendências à depressão ou ao suicídio. Claro, um caso pode levar ao outro, ou seja, a depressão pode ser a principal causa do suicídio.
Neste contexto, como culpar alguém por ter depressão? Como fizer, por exemplo, que “uma pessoa irá para o inferno” porque ela “escolheu” o suicídio?
* “L’ereditarietà della predisposizione al suicidio dimostra che nella determinazione a togliersi la vita la parte soggettiva è senz’altro la più forte.”
** Gláucio SOARES. jb on line. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/06/07/a-doenca-invisivel/
É AGORA!!
Sem dramas, sejamos claros: chega de imaturidade e de reclamar. Em que ponto da vida você está? Como aproveitar esse momento AGORA? Use passado a seu favor para não errar novamente e esqueça o futuro, ele não existe, pensar nele só gera ansiedade e você sofre por uma coisa que nem existe e, pior, deixa de ter prazer AGORA.
Em que ponto da vida você está? Afinal, qualquer pessoa vive em média uns 80 anos, um pouco mais ou um pouco menos. A questão é, objetivamente, em que “ponto” você está, 20, 28, 40, 50 ou 60 anos?
Pense: você tem zero de autonomia nos 10 primeiros anos da vida. Sobram 70. Até os 20 anos, a adolescência, mudança do corpo, hormônios, primeiro beijo, tudo parece novidade e divertido mas a insegurança o obriga a andar e viver em turma.
Entre os 20 e os 30, termina a faculdade e começa trabalhar, mas ainda mora com os pais. Ou seja, não tem uma independência verdadeira… No fundo, você ainda não saiu para a vida ! Ainda está fingindo para si mesmo e para os outros que finalmente chegou na vida adulta. Não. Você não chegou.
Nessa fase, deve pensar o que quer ou, no mínimo, NÃO ACEITAR o que não quer. Por exemplo, pode se recusar a participar daquela hipócrita reunião familiar no Natal.
Pense: imagine que você tenha 28 anos, está formado, trabalha, mora com os pais, sai com os mesmo amigos da faculdade, MAS ainda NÃO saiu para a VIDA.
Você sabe, no fundo, que existe algo errado. Os seus amigos sempre te elogiam e seus pais dizem que você é a pessoa mais inteligente e bonita do universo. Entretanto, você tem dificuldade para dormir. Algumas vezes, falta apetite ou você come demais.
Para não enfrentar a si mesmo, faz o que qualquer um faria nessa idade: bebe muito para esquecer da sua vida e para poder suportar os mesmos lugares, as mesmas pessoas, as mesmas reclamações e… você ainda não saiu para a vida. Finge. Mas a insônia diz que existe algo errado. O inconsciente é implacável, você não pode fugir. A partir dessa idade, ou você vive efetivamente a sua vida ou pagará um preço muito alto ao lidar com o seu próprio inconsciente.
O tempo não espera. As oportunidades (inclusive as amorosas e as sexuais) não se repetem. Não existe “replay’ na vida. É ao vivo. Pegar ou largar. Viver ou reclamar. Ser feliz ou lamentar. Arrepender é focar no passado, é não viver. Ter esperanças é focar no futuro, é não viver.
Você pode dar “unfollow” no profelipe que sempre diz “coisa nada a ver”, pode fingir que a demissão de 15.000 funcionários no governo da Grécia e a demissão de 12.000 trabalhadores na American Airlines seriam fatos normais e não irão atingi-lo. Pode ter visto o Bom Dia Brasil de hoje, 14-02-2012, e nem percebeu que uma das chamadas das matérias jornalísticas era “Por que o Brasil não cresce mais e não gera emprego?”
Você escolhe. A vida é sua. O outro não pode e nem quer fazer algo por você exceto o que cause algum prazer para ele também.
SABER OU NÃO *
1. “Daí você não depende de outra pessoa…”
Essa frase é uma ilusão. Você vive em sociedade, portanto, não importa a classe social, o sexo ou a idade, você sempre dependerá de alguém.
2. Evite as pessoas que te enchem o saco e só vêem o lado negativo das coisas, só te colocam para baixo.
Os amigos e os familiares que se enquadram neste perfil devem ser eliminados do seu convívio.
Não explique, simplesmente afaste-se destas pessoas.
Você não pode mudá-las e indivíduos assim sempre existiram e continuarão perturbando os outros. A condição humana possui vários lados negativos. Esse é um deles.
3. Lembre-se: a vida não é linear e muito menos evolutiva. São altos e baixos. Não existe decadência.
4. Cada indivíduo representa em si um conjunto de contradições: Id, ego e superego. Além disto, ele já nasce com informações na sua genética, com certas tendências… Ainda existe o inconsciente de cada um.
Agora, imagine uma sociedade que cada indivíduo desse fosse representado por um bola num jogo de bilhar. Repetindo: cada bola em si já é contém vários conflitos.
A sociedade é a “reunião” desses indivíduos.
De fato, ocorre um constante choque entre eles, que afeta cada um e todos ao mesmo tempo.
É o caos. É imprevisível. É o que eu chamo de chamado “efeito bilhar”.
Isso é um movimento “interno” que ocorre numa sociedade de indivíduos cuja unidade é complexa e contraditória.
5. A noção de tempo do homem é diferente do que seria o tempo no universo.
O tempo do homem foi inventado a partir dos movimentos do planeta terra (sobretudo diante do sol).
6. Cada indivíduo pensa a sua própria condição a partir de três perspectivas:
A) “Inside” ou “por dentro”, a sua saúde, o seu humor, a influência do inconsciente, entre outros fatores.
B) As micro-relações, ou seja, a avaliação das relações com familiares e amigos.
C) A sociedade… É necessário avaliar com os outros vêem e avaliam esse indivíduo pois isso o afetará emocionalmente.
Além destes três níveis, existem as relações com o próprio planeta e com o universo, mas essas relações podem ser consideradas “distantes” no sentido de avaliar o seu bem-estar no cotidiano.
7. Não é novo, mas vale repetir: a base da relação entre o indivíduo e a sociedade é o conflito. Trata-se de uma escolha: ou a PESSOA realiza o seu desejo OU realiza a vontade dos OUTROS.
Essa é a contradição: por sua condição, o indivíduo é CARENTE, precisa do outro… por relações de poder, o outro REJEITA o carente… A confusão está instalada sobretudo porque a base de tudo isso é a EMOÇÃO.
Em outras palavras, a pessoa inventar uma justificativa RACIONAL para explicar uma REJEIÇÃO, mas internamente aquela DERROTA não foi processada… Com o tempo, torna-se RANCOR ou VINGANÇA.
8. Não existe paz. Não existe segurança. Não existe estabilidade.
Não adianta reclamar.
Aprenda a conviver com as dúvidas e a certeza da morte ou escolha uma ilusão qualquer para se esconder da vida.
Alcoolismo, paixões, drogas, religiões e radicalismo na política fazem grande sucesso entre os alienados.
9. Escolher uma ilusão é montar uma bomba-relógio.
O mundo cor-de-rosa precisa apenas de um “gatilho” (“trigger”) para detoná-lo.
Esse “gatilho” pode ser “externo” ou “interno”.
Os ditadores são os melhores exemplos na medida em que se mostram como intocáveis (e o pior é que muitos acreditam nesta imagem).
Aspecto “Externo”: Apesar de ter o controle do Iraque, Saddam Hussein foi retirado do poder por uma força estrangeira (Estados Unidos) e depois foi enforcado.
Aspecto “Interno”: Mesmo controlando a população do seu país, a Venezuela, mudando a constituição e sendo continuamente reeleito, Hugo Chavéz descobriu que o seu principal recentemente: o câncer.
Contra a “natureza do corpo” não existem muitos argumentos… Não adianta “amar a vida, o poder e os bens materiais” e dizer “não quero morrer”… Morrerá. Como qualquer pessoa.
10. Duas maneiras básicas para lidar com os chatos: ironia e reação.
(*) Escrito em 19-02-2012.
SABÁTICO
No filme “Les Invansions Barbares”, um professor universitário é afastado por causa do câncer. No hospital, ele reclama que o reitor não foi despedir dele. Na sua última aula, era clara a indiferença dos alunos. Para piorar, numa discussão com o filho, o velho professor tem que ouvir a seguinte crítica: “… o que é melhor que mofar em uma universidade medíocre em uma província atrasada.” Para quem trabalhou tanto tempo em duas faculdades do interior, como foi o meu caso, trata-se de uma crítica e tanto.
Em suas reflexões, ele afirma que sentirá saudades sobretudo dos livros e das mulheres. Arrependimento? Ele diz que gostaria de ter escrito livros. Esse é um problema do professor de faculdade pequena: ele tem que dar muitas aulas e atividades como pesquisa e extensão não são valorizadas. Em resumo, ele torna-se uma “máquina repetidora de conhecimento”, que vende o seu tempo em troca do salário. Normalmente, ele usa isso como desculpa para não produzir. É uma desculpa interessante, se pensarmos as condições de trabalho que ele tem. No entanto, não deixa de ser uma desculpa.
Obviamente, me identifiquei com a história do professor do filme. Existem pontos comuns e divergentes. Apesar das faculdades não valorizarem, eu fiz duas teses, publiquei seis livros e escrevi artigos para revistas científicas. Produzi algo. Existem falhas nos trabalhos, reconheço, mas isso acontece com todos. O que importa é que arrisquei e publiquei. Arrependimento? Conscientemente, nenhum… Hoje em dia, costumo dizer que trabalhei tempo demais (a tal ideologia do trabalho…). Não sei, contudo, se isso seria um arrependimento.
O comum é ouvir perguntas sobre quando voltarei a dar aulas. As pessoas não acreditam que você possa viver sem estar associado a uma empresa ou instituição. Por quê não? Não sei se voltarei a dar aulas. Quando surge esse assunto, digo que sou formado para ser professor e pesquisador, ou seja, dou aulas, pesquiso e escrevo. Das três coisas, atualmente, só não trabalho em sala de aula.
Nas reuniões que participava como docente, era comum ouvir gente dizendo que gostaria de ter tempo para ler e escrever, sem se preocupar com o cumprimento de horários e com o cartão de ponto. Hoje eu tenho esse tempo. E leio e escrevo.
OBVIEDADES
As pessoas me odeiam muito facilmente. Eu devo ter uma espécie de dom. Conversando com outros indivíduos, percebi que isso não era só comigo, apesar de imaginar que não seja algo comum.
No meu caso, não me importo. Não explico o óbvio. Quer me odiar, com dizem, pegue um número e entre na fila.
Evito provocar as pessoas, mas já percebi que isso não é suficiente.
Eu não sou vítima das “forças incontroláveis do universo”. Nem sou importante para ser odiado.
Enfim, resolvo a questão de uma maneira bem simples: me relaciono só com quem gosta de mim. Não gosta? OK. Não brigarei. Só tenho o direito de não ter contato com tais indivíduos. É o mínimo, eu acho. Para mim, é o suficiente.
EXCESSOS NA NOITE
Os excessos na noite (álcool, sexo, drogas…) estão associados aos processos da autodestruição e do esquecimento. As pessoas querem apagar da memória, quase a qualquer custo, aqueles fatos desagradáveis de um cotidiano óbvio e patético – com as famosas cobranças “para o seu bem” feitas na família, na escola, no trabalho ou na igreja.
De imediato, com os excessos, os objetivos são alcançados. A sensação, na hora, é maravilhosa.
Entretanto, existe um problema: os excessos apagam fatos desagradáveis do cotidiano e o que é vivido na própria noite. É comum, no outro dia, os indivíduos lembrarem poucas coisas da noite anterior. Muitos acordem em lugares estranhos, sem roupas, e ao lado de pessoas que não sabem nem o nome. Mesmo assim, apesar da “ressaca moral”, fica um sentimento de que pelo menos foi divertido.
Outro problema é o fracasso quanto ao objetivo (inconsciente) da autodestruição, afinal, as pessoas acordam e precisam voltar para aquele mesmo cotidiano de família, escola, trabalho, igreja… Apesar de não lembrar do que aconteceu durante os últimos excessos, os indivíduos utilizam “a volta ao cotidiano” como pretexto para retornar aos exageros da bebida, do sexo… Alguns acreditam que na próxima vez será (sempre) diferente e melhor.
Assim, é criado um ciclo vicioso (ou virtuoso). Como fugir disto? Não. A pergunta está incorreta. O certo seria: “alguém deseja fugir dos excessos?” Provavelmente, não.
Por quê? Simples: o cotidiano é chato e sem sentido. Na noite, com o álcool, a fumaça e a música alta, as coisas ficam mais bonitas e divertidas. Pode ser uma ilusão. Talvez seja mesmo. Mas quem efetivamente se importa?
O MUNDINHO DO FELIPE
Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como “o mundinho do Felipe”. Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu “mundinho”. Mas o que seria isso?
Vejamos uma sequência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no “mundo dela”. As barreiras podem ser reais – uma cela numa prisão, por exemplo – ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:
“o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam.” (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)
Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem “os cachorros de apartamento”. Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.
No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu “cárcere”. Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.
Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:
“Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão.”
O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo “mesmo cárcere”.
AS MULHERES FAZEM AMOR E OS HOMENS FAZEM SEXO ?
O facebook é basicamente a união de três ferramentas: orkut, twitter e msn. Assim, ele se aproxima efetivamente do conceito de “rede social”, algo que seria proporcionado pela internet. A frase “eu tenho vida fora do facebook, só não lembro a senha” resume isso. Em outras palavras, com o facebook posso viver o mais próximo da realidade social – o convívio com outras pessoas – sem, no entanto, sair de casa.
Quem me conhece desconfia que esse não seja realmente o assunto que será tratado. É verdade. Quero falar de sexo.
Quando quer fazer sexo com a esposa, namorada ou amiga, um homem normalmente refere-se a expressão “fazer amor”. Ele quer dizer isso mesmo, ou seja, que aquele ato envolve algo mais que o contato entre os corpos, existe carinho. O mesmo homem jamais usa a palavra “amor” quando paga por sexo. Se com a namorada, ele se sujeita – com prazer, aliás – aos charmes dos jogos de sedução, com uma GP (Garota de Programa), tudo é muito objetivo, ele não esconde que está ali para só satisfazer as necessidades do seu corpo, os seus instintos de animal.
Em outras palavras, o mesmo ato, com uma mulher, por ser percebido como “civilizado” e, com a outra, pode ser analisado como “natural”. Isso tem a ver com a famosa frase “as mulheres fazem amor e os homens fazem sexo”. Claro que pelo que foi dito antes, essa frase pode ter o seu apelo, mas não corresponde à realidade, afinal, as relações entre homens e mulheres são muito complexas e devem ser interpretadas caso a caso, ou seja, não existe um modelo geral ou uma receita que garantiria a felicidade numa relação amorosa.
E o que tudo isso tem a ver com a constatação inicial do facebook? Bem, isso será tratado em outro texto.
XUXA & SANDY: POLÊMICAS
Os ídolos não são culpados pelos erros dos jovens e adolescentes. Teoricamente, eles teriam influência no comportamento deles, mas é difícil avaliar a culpa de um equívoco generalizado – como a omissão ou a tentativa de atribuir as suas responsabilidades ao outro.
No Brasil, antes de ser “a rainha dos baixinhos”, a Xuxa namorou o Pelé e posou nua para revistas como a Playboy, Ele Ela e Status (nessa com um leve toque S&M, pois aparece, em algumas fotos, com algemas).
A Xuxa ainda participou do filme “Amor Estranho Amor” (1982), com cenas de nudez e uma tentativa de sedução de um garoto de 12 anos. Se tudo isso ocorresse hoje em dia, os moralistas criticaram os supostos elogios ao S&M e à pedofilia. Mas a época era outra, não havia o “politicamente correto” e ninguém deu importância nem para as fotos nem para o filme.
Quando passou a representar uma referência para crianças e adolescentes, Xuxa tentou negar o passado, mas já era tarde demais.
Em 2011, outra celebridade de crianças e adolescentes gera polêmicas. Trata-se da Sandy. Aparentemente, ele deseja mudar a imagem de menina pura que ficou na mentalidade de todos. Ela é casada, mulher e, parece, quer ser vista como adulta. Entretanto, ela não percebe que maturidade significa responsabilidade, ou seja, um adulto assume o que fala e o que faz. Ela não tem feito isso. Primeiro, foi a polêmica com a cerveja Devassa:
“a cantora Sandy tentou se defender das declarações de que não bebe cerveja, embora seja garota-propaganda da marca Devassa, insinuando que alguns colegas fazem anúncios de produtos que não consomem. Ela chegou a questionar se todo mundo pensa que a Xuxa usa o creme hidratante da Monange e se Luciano Huck e Angélica usam xampu da Niely Gold.” http://www.portalrg.com.br
Recentemente, a Sandy envolveu-se em outra polêmica ao tratar de sexo anal e, mais uma vez, não assumiu os seus atos:
“a cantora Sandy disse que a revista ‘Playboy’ foi sensacionalista ao destacar na capa da edição de agosto uma frase de sua entrevista – ‘É possível ter prazer anal’. Segundo Sandy, a publicação tirou o contexto da frase ao retirá-la de uma resposta da entrevista.” http://www.clicapiaui.com
Se a Sandy bebe cerveja ou gosta de sexo anal, é problema exclusivo dela. Querer usar essas referências em seus discursos nos meios de comunicação de massa, passa a ser um problemática que interessa aos outros. A sua dissimulação é um péssimo exemplo para aqueles jovens que ainda a enxergam como um modelo a ser seguido.
De fato, os casos da Xuxa e da Sandy demonstram que elas subestimam a inteligência do público, na medida em que querem esconder o passado ou tentam manipular o que dizem em entrevistas. Talvez acreditem que sejam efetivamente especiais e que tenham poderes para iludir a audiência o tempo todo. São ingênuas e reforçam o preconceito de muitos adultos quanto aos seus nomes.
UMA ESTRANHA FORMA DE AMOR
Michel Foucault fez um seminário interessante me 1982. Contudo, a minha intenção, aqui, não é discutir o seminário.
Quero refletir sobre uma pergunta – “o que somos nós hoje?” (Dits et Ecrits, p. 1653) – e sobre uma afirmação de que seríamos “indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros: criminosos, loucos, etc.” (Para quem quiser saber mais sobre a perspectiva de Foucault, basta ler os livros “Vigiar e Punir” e “História da Loucura.)
No que diz respeito à pergunta – “o que somos nós hoje?” -, o “hoje” demonstra que a definição do homem depende da sua época histórica. O que eu sou, o que é certo ou errado, depende da sociedade em que vivo. Isso muda de sociedade para sociedade e de época para época. As definições e os valores são inventados pelas pessoas de acordo com suas necessidades.
Aqui aparece a afirmação de Foucault – “somos indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros“. Por quê? Para existir, eu preciso negar a existência do outro. Para dizer que sou normal, preciso identificar alguém como anormal. Para valorizar a minha liberdade, preciso que outros estejam presos.
Preciso me sentir especial, exclusivo e escolhido. Para me sentir assim, devem existir os excluídos. Nesta perspectiva, a valorização da minha felicidade dependeria da infelicidade dos outros. Assim, seria possível compreender por que certas pessoas não suportam a felicidade do outro.
Qualquer indivíduo já teve a sensação de que o seu prazer incomodaria outras pessoas próximas e elas imediatamente fariam comentários de censura quanto à sua felicidade ou inventariam obrigações que não estavam planejadas para aquele momento.
Em outras palavras, parece que o objetivo dessas pessoas é transformar o seu cotidiano num inferno! E o pior é que elas dizem que fazem isso – censura, repressão, etc – porque se preocupam com você! Tentam transformar sentimentos negativos – inveja, ciúme, rancor – em algo nobre – como o altruísmo.
O que complica ainda mais o processo é que as pessoas que agem assim não percebem conscientemente o mal que estão fazendo aos outros. Acreditam que amar significa fazer o outro sofrer! Acham, equivocadamente, que o ciúme e a inveja são essenciais numa relação amorosa. Fazem tudo para destruir aquilo que, dizem, mais amam.
Trata-se, no mínimo, de uma estranha forma de amor. De fato, existe um confusão: o que essas pessoas sentem é ódio, mas não conseguem admitir tal sentimento, então acreditam no impossível: a finalidade é o amor e os meios para realizá-lo seriam a repressão, a inveja, o ciúme e o sofrimento.
SUICÍDIOS E CULPADOS
Eu odeio pedófilos. Eles raramente são presos. Suas filhas molestadas suicidam e nada acontece. Se as garotas denunciam – e isso é raro – costumam não ser levadas a sério.
Um exemplo disto foi o caso de Ashley Billasano, que suicidou aos 18 anos (em 2011).
“Ela procurou as autoridades e os dirigentes da sua escola para denunciar o que havia acontecido com ela, mesmo assim as suas reclamações não tiveram resposta prática alguma”.
Um detetive chegou a dizer que “tinha dificuldade em acreditar na garota,” inclusive, ligaram para ela para dizer que “não havia evidências ou provas suficientes” para o caso dela.
Antes de suicidar, Ashley Billasano “postou 144 vezes durante 6 horas no seu twitter, que tinha mais de 500 seguidores, explicando como ele havia sido molestada e até forçada a se prostituir, antes de cometer suicídio. Ninguém tentou impedi-la.”
Em um depoimento, a sua melhor amiga, Escamilla, afirmou:
“Continuar vivendo quando alguém te machuca e ninguém faz coisa alguma a respeito – isso não deixaria a pessoa louca? Sentir-se ignorada por pessoas que deveriam te ajudar. Isso é loucura.”
O irônico é que tudo que ela postou no twitter foi removido. A preocupação da polícia era que o caso dela não servisse de exemplo para os outros. Parece piada, afinal, as autoridades deveriam punir os molestadores e não deixar apagar as provas e a memória da vítima.
*As citações foram retiradas do website: http://www.therundown.tv/headlines/just-in/teen-girl-commits-suicide-after-posting-144-times-on-twitter/
Como sempre aviso nas redes sociais, foi somente em 2010, influenciado por um depoimento de Henry Miller – “mas eu não vou parar de escrever, pelo menos vou querer me divertir com isso; estou cansado de fazer coisas longas, sombrias e sérias” - e pela leitura de “Mitologias” de Roland Barthes, que comecei a escrever textos opinativos sobre vários temas.
Vejo os textos opinativos como conversas informais: leves, sem grandes pretensões. Apesar disto, quando acho necessário, faço citações de autores de diversas correntes. Acredito que, assim, posso contribuir melhor para o processo de reflexão e o debate de ideias.
CANTADAS DESINTERESSANTES
Quando uma garota passa dos 25 anos e admite que só é cantada por gente desinteressante, acredito que o foco esteja equivocado: mas do que avaliar o outro, ela deveria olhar para si mesma.
Deveria começar com a pergunta: por que não é mais tão abordada por gente interessante quanto antes? A resposta é simples: o tempo passa para todos. Os olhares para uma garota de 16 ou 18 anos não são os mesmos, por exemplo, para aquelas com 30 anos.
Além disto, a própria garota mudou, não é ingênua mais, não acredita em cantadas vazias, possui experiências de várias paqueras e namoros. Depois dos 25, quase sempre, a garota viveu um longo namoro que ela imaginava que terminaria em casamento. Não foi esse o fim e, no contexto atual, ela pode se encontrar um pouco perdida.
No desespero, algumas vezes, a garota frequenta lugares que jamais iria antes. Tenta se convencer de que é melhor “ficar sozinha do que ser mal acompanhada”. Inventa coisas para fazer, como cursos de dança de salão, atividades físicas diferentes e, até em alguns casos, retorna à universidade para fazer outro curso superior. Nada disto resolve.
Algumas tornam-se religiosas e mudam completamente aquele velho estilo de vida. Buscam uma estabilidade emocional que não existe. Mesmo numa igreja, existem parceiros infiéis.
A solução não seria desistir de viver um relacionamento romântico sério e duradouro. A resposta estaria mais próxima de algo como adequar os seus desejos ao seu perfil, sua idade, e avaliar o contexto social da atualidade em que vive.
Pode usar o passado para não repetir os erros. Mas nada substitui o prazer do presente. Isso ocorre quando se olha para o futuro e assume (pelo menos para si) o que quer da vida.
MULHERES MÁGICAS
As mulheres são como os mágicos: possuem o dom de levar os olhos dos outros na direção que desejam. Ainda (como os mágicos) conhecem vários truques que tornam-se fundamentais para criar uma ilusão: cirurgias, cremes, silicones, maquiagens, perfumes, botox e assim por diante.
A objetividade dos homens é uma aliada no processo. Eles gostam do sim ou do não, ou do famoso preto ou branco. As mulheres caminham em cenários complexos e nebulosos (que são necessários para a produção das ilusões).
Todo homem que está num relacionamento (certamente) tende a acreditar que com ele seria diferente, que estaria vivendo o verdadeiro amor e que seria assim para sempre.
Não poderia ser diferente. Assim como não poderia estar mais errado.
Essa relação (como qualquer outra do passado) acabará. As declarações de amor darão lugar aos insultos e às fofocas. Logo deixarão de conversar um com outro ou manterão um contato bastante frio para quem um dia fazia parte daquilo que os outros chamavam de “casal perfeito”.
Devem existir exceções. Talvez. Mas são exceções.
A maioria precisa lidar com a realidade ingrata que significa, basicamente, aceitar algo incompleto com forte tendência para o desastre no sentido de fugir da solidão.
Uma alternativa seria inverter o jogo: conviver consigo mesmo pode ser saudável e a liberdade de estar sozinho possibilita experimentar coisas novas e conhecer pessoas diferentes.
Seria importante partir do “sozinho está bom” para, só bem depois, abrir mão de tal felicidade para assumir uma vida cotidiana de casal.
Não é simples. Não é rápido. Não é automático.
A alternativa, porém, parece ser mais interessante do que ficar refém do outro, que saberá utilizar toda carência como mecanismo de fortalecer a sua postura em qualquer jogo de poder – que atualmente pode ser chamado também de namoro.
SEXO: ATO E DISCURSO
Os adultos, em sua maioria, valorizam excessivamente o ato sexual. O “sexo em si” é a realização de um instinto natural. Só isso. Pronto.
Entretanto, muitos colocam um mero instinto como o centro da vida, como a razão de tudo. Parece que, como diria a personagem de Julia Roberts no filme “Closer”, têm 12 anos…
A vida adulta, de um indivíduo civilizado, está, teoricamente, associada aos fatos complexos, daqueles que precisam de várias interpretações e apresentam, não raramente, várias possibilidades de resposta.
Neste contexto, o sexo é tratado não como o ato “em si”, mas como uma estratégia de poder, um discurso que permite estabelecer regras para controlar o outro.
Quando os religiosos condenam a relação sexual fora do casamento ou o homossexualismo, eles não estão preocupados com o prazer ou não das pessoas e nem o que elas efetivamente fazem entre quatro paredes.
O que importa para eles é utilizar o sexo como uma estratégia de controle ou como uma forma de ser autoridade sobre o outro.
Matar o desejo do outro não gera grande prazer para uma autoridade. A satisfação vem do poder de dizer ao outro o que ele deve fazer.
Trata-se de controle, de manipulação. É, basicamente, uma questão de poder.
E o ato sexual? Quem se importa? Quem acredita? Sexo é só sexo.
E o amor, a moral, a religião, a ética e os outros valores? Esses conceitos representam exatamente isso: outros valores. Associá-los ao sexo é só uma maneira de desviar o foco do essencial e, assim, conseguir controlar o outro.
CANTADA FEMININA
Homens cantam as mulheres. Pode parecer elogio ou algo ofensivo. E o contrário? Seria aceitável a abordagem de uma mulher na paquera com um homem?
Depende, claro, do ponto de vista. Para o homem, seria bom na medida em que “facilitaria o seu trabalho”. Entretanto, ele tende não valorizar a mulher exatamente pela facilidade do processo.
Este tipo de problema é mais comum com as mulheres mais velhas porque elas deixaram de ser o alvo principal das paqueras. Isso gera um complicador: a rejeição masculina agrava a crise de autoestima feminina.
Diante de uma rejeição, algumas mulheres reagem como homens: partem para a agressão (verbal). Entre as ofensas, é comum elas questionarem a masculinidade do seu paquera com a pergunta: “você é gay?” A intenção é que ele “prove” o contrário e fique com ela naquela noite. Pode dar certo, mas dificilmente um namoro sério seria consequência deste tipo de situação.
As mulheres utilizam diversas técnicas discretas no processo de conquista. Certo ou não, isso é o esperado. Os homens, numa sociedade machista, tendem a valorizar as garotas mais jovens.
Deixar de ser o objeto favorito dos olhares masculinos significa que uma mulher não seria tão ingênua e, ao mesmo tempo, poderia usar as experiências com suas relações amorosas a seu favor no jogo de sedução.
O dilema, contudo, permanece: a educação machista não é direcionada só ao homem. Se a mulher acredita que isso (o machismo) seria a normalidade, com certeza, dará razão aos homens e terá mais dificuldade na conquista e na manutenção de um namoro.
ATRAÇÃO POR MULHER QUE GOSTA DE MULHER
Quem já viveu um “ménage à trois”, obviamente, lidou com uma pessoa bissexual. No caso de um homem e duas mulheres, pode ser bastante complicada a atração por uma garota bissexual.
Esse tipo de garota tende a gostar mais de mulheres. O problema, para o homem, é que ele, diante de uma bela garota, sempre vê uma mulher atraente e sedutora (não importa se ela se interessa só por mulheres).
Aqui a relação fica desigual porque a garota pode usar os seus jogos de sedução mesmo sem a mínima intenção de ficar com o homem. Ele torna-se um alvo fácil.
Quanto maior a impossibilidade da conquista (ela, de fato, não gosta de ter relações sexuais com homens), mais aumenta a atração e a necessidade de “realizar amor”.
O homem, neste tipo de situação, não percebe que entrou numa armadilha. Caso se apaixone pela garota que não gosta de homens, claro, transformará algo ruim em uma coisa bem pior com possibilidades reais de finais trágicos.
Isso significa também que a garota (que gosta de mulheres e seduz homens) não possui tanto poder que imaginava. Não é difícil enganar e manipular um homem apaixonado. O complicado será lidar com a sua ira ao perceber que foi só um fantoche em todo o processo e, pior, que, no final, teria “sido trocado” por uma mulher na batalha pelo amor da garota (que, de fato, sempre gostou mesmo foi das mulheres).
MULHERES DIFÍCEIS
Não existe necessidade de enfrentar o ridículo dilema de Veríssimo ao afirmar que se relacionar com mulher seria bastante difícil e o homem que não quiser, deveria procurar um gay.
É ridículo porque os problemas que surgem em relacionamentos não são causados só pelas mulheres e não são exclusivos do mundo heterossexual.
Dizer que muitos homens são machistas, insensíveis e autoritários e que tudo isso dificultaria qualquer relação, claro, é uma coisa óbvia. Existem também mulheres chatas e manipuladoras que sabem transformam qualquer namoro num inferno (seja um namoro heterossexual ou do tipo homo afetivo – a intenção aqui não é discutir esse termo).
Num sociedade moderna, foram inventadas as qualidades dos homens e das mulheres. Numa visão bem simplista (e machista), basicamente o homem precisa ter dinheiro e a mulher necessita ser atraente.
Os homens mais velhos, na crise da meia idade, sentem-se atraídos por garotas muito jovens. Síndrome da Lolita, diriam alguns.
O principal motivo da escolha estaria associado ao retorno da juventude (algo impossível de acontecer). É um jogo, uma ilusão que os velhos se apegam para não pensar na morte que se aproxima.
A escolha parece, inicialmente, perfeita:
as garotas muito jovens são lindas, ingênuas (se comparadas com as mulheres de 40 ou 50 anos) e ainda servem como troféus para mostrar para os outros como comprovação de virilidade. É tudo jogo de cena, claro.
Com o tempo, a escolha que parecia ideal, provavelmente, torna-se um problema.
Uma garota muito jovem que se envolve com um homem bem mais velho tem problema com a figura paterna. Existe, para dizer um mínimo, uma carência. Ela deseja, no fundo, algo que não teve na infância: um pai de verdade (na sua concepção). Esse pai deveria realizar todos os seus desejos, inclusive os sexuais.
Harry Stein afirma, no seu artigo, que esse tipo de mulher seria fácil de ser identificada: é aquela que ama bichos de pelúcia, adoro (em excesso) os animais e as plantas (com os quais utiliza “uma linguagem tatibitate”).
“Ela só consegue receber, e nunca dar e repartir. Precisa ser subornada o tempo todo com bombons, vestidos e agrados, para não fazer beicinho. E em 99% dos casos costumam ser passiva na cama.” (p. 124 e 156)
Já tive, na minha própria crise da meia idade, experiências com garotas deste perfil e posso afirmar que a teoria de Harry Stein não seria totalmente infundada. Houve oportunidades, por exemplo, que a passividade na cama era tamanha (eu teria que tomar a iniciativa em tudo) e as reclamações eram tantas que, num momento, eu parava tudo, deitava do lado da garota e avisava “OK, você vem por cima e faz o que quer, como quer, etc. etc. ou simplesmente vamos dormir.”
O que parecia um sonho de todo homem – uma mulher jovem e atraente – transforma-se num pesadelo. Esse é o ponto. Muitos diriam que toda relação possui pontos positivos e negativos. Mas aqui seria diferente na medida em que o homem mais velho “procurou se dar bem” com uma garota muito jovem a partir de vários motivos equivocados. Neste sentido, as consequências não poderiam ser outras. Aliás, esse senhor de meia idade pode se considerar satisfeito se o resultado da relação ficar só na irritação com os charminhos da garota. Existem casos em que as consequências são bem mais graves tanto para ele como para ela.
SEXO E REPRESSÃO
Não lembro, nas minhas leituras das obras de Domenico de Masi, de ver a teoria de filósofo francês Hebert Marcuse ser citada como algo favorável ao ócio criativo, que seria proporcionado pela revolução tecnológica do computador, que reduziria o trabalho do homem na produção e lhe daria mais tempo livre.
Roger Kennedy, em seu texto sobre a libido, por outro lado, demonstra que a filosofia de Marcuse teria muito a ver com as teses defendidas por Domenico de Masi. Kennedy, destaca, primeiro, a perspectiva freudiana:
“Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência.” (Kennedy, Libido, p. 75)
Seguindo essa linha de raciocínio, Roger Kennedy percebe uma continuidade nas hipóteses do filósofo francês:
“Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade.”(Kennedy, p. 75)
De fato, a base da argumentação de Marcuse seria utilizada posteriormente por Domenico de Masi. Quanto ao resumo de Kennedy sobre Freud, pode ter ocorrido um exagero, na medida em que a sua afirmação não valeria para toda história da humanidade. A sua tese (atribuída a Freud na primeira citação) não seria verdadeira quanto ao discurso da sexualidade na Grécia Antiga.
Numa perspectiva bem diferente do socialista Domenico de Masi e do marxista Marcuse, o nietzscheano Michel Foucault analisa a sexualidade como uma estratégia discursiva no exercício do poder.
Se para Marx a luta pelo poder teria uma perspectiva “geral” na sociedade, a partir da contradição entre a classe dominante e a classe dominada, para Foucault não existiria essa “oposição binária e global entre os dominadores e dominados.” (A Vontade de Saber, p. 90).
Michel Foucault defende uma microfísica do poder:
“o poder está em todo lugar; não porque englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares.” (p. 89)
Para Foucault, portanto, a repressão geral ao sexo não representa o ponto central do debate na medida em que existem “correlações de forças múltiplas que se formam e atuam nos aparelhos de produção, nas famílias, nos grupos restritos e instituições.” (p. 90)
Em nenhum momento, na perspectiva dos outros citados, é negado o uso repressivo que pode ser associado ao sexo. A questão seria perceber essa problemática como uma repressão geral sobre toda a sociedade ou enfatizar as estratégias de repressão e de resistência espalhadas por todo o corpo social.
DESEJO SEXUAL
Quem tem depressão e está em crise, vai ao médico e é comum o paciente ser orientado a tomar regularmente medicamentos como Prozac ou Zoloft. O que normalmente o médico não diz no momento – o paciente nem estaria interessado pois o objetivo seria se livrar da depressão – é que um dos efeitos colaterais dos antidepressivos atingiria a sexualidade.
Existe o bem estar proporcionado, por exemplo, pela “pílula da felicidade”, o Prozac, mas, ao mesmo tempo, haveria um desinteresse quanto ao sexo. Esse tema é discutido num dos episódios da série “Sex and The City”.
No que diz respeito ao Zoloft, ele também traz o bem estar mas dificulta a ejaculação durante uma relação sexual. Alguns homens sempre tiveram pânico da ejaculação precoce e, portanto, de decepcionar as suas parceiras. O Zoloft resolve esse problema.
A questão é que o controle é definido pelo medicamento e não pela mente do homem – como defende, por exemplo, o Taoísmo – e isso faz toda a diferença. Na prática, significa que o homem em 20 relações sexuais, ele teria ejaculação em uma e não seria ele, racionalmente, que decidiria qual e nem o momento do gozo.
Em relação ao Taoísmo, Jacques Lacan apresenta uma análise interessante:
“No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É preciso reter a esporra, para ficar bem.” (Lacan, Mais, Ainda, p. 156-157)
Ou seja, enquanto nos animais a ereção e o gozo são a realização de um instinto natural, nos seres humanos, o processo civilizatório possibilita uma leitura que não se restringe à natureza, o que pode levar, como aparece na citação de Lacan, a “reter a esporra, para ficar bem.”
De fato, o “Taoísmo defende o ‘deixa-estar’ ['let-it-be'] (…) e um estilo de vida caracterizado (…) pelo cultivo da tranquilidade.” [Charles Guignon (ed.) The Good Life]
O oposto disto seria a ansiedade que no sexo pode ser traduzida, entre outras coisas, na ejaculação precoce.
Em suma, como sempre, não existe uma solução mágica que resolve tudo. Cabe aos indivíduos fazer as suas escolhas e saber lidar com as consequências. Isso é o óbvio, claro, mas parece que é assim mesmo que as coisas funcionam.
SEXO, CORPO & MENTE
De acordo com Jaques Lacan (Mais, Ainda, p. 156-157):
“Tudo isso não quer dizer que não tenha havido truques de tempos e tempos, graças aos quais, o gozo (…) pôde crer-se vindo a esse fim de satisfazer o pensamento do ser. Só que – jamais esse fim foi satisfeito senão ao preço da castração.
No taoísmo, por exemplo – vocês não sabem o que é isto, muito poucos sabem, mas eu, eu o pratiquei, pratiquei os textos é claro – o exemplo patente na prática mesma do sexo. É preciso reter a esporra, para ficar bem. O budismo, este é o exemplo trivial por sua renúncia ao próprio pensamento.”
Enquanto nos animais a ereção e o gozo são a realização de um instinto natural, nos seres humanos, o processo civilizatório possibilita uma leitura que não se restringe à natureza, o que pode levar, como aparece na citação de Lacan, a “reter a esporra, para ficar bem.”
O sexo, para os homens, deixa de ser só a realização de um instinto. Torna-se uma forma de aceitação ou de controle social. Dessa maneira, mais do que tratar do corpo, o sexo lida com a mente.
A inteligência pode ser tão afrodisíaca quanto as emoções. O invisível ganha materialidade, por exemplo, com a ereção e o gozo. Olhares, cheiros, sons, toques tornam-se tão importantes como aquilo que é dito ou não. O sexo, antes óbvio e natural, passa a ser um jogo complexo, que muda o tempo todo, que não admite modelos pré-definidos. Quanto mais sofisticado, mais complexa torna-se a excitação e mais raro (e intenso) o prazer. Existiria o gozo para “satisfazer o pensamento do ser“? E imaginar que muitos acreditavam que sexo tratava só do corpo…
Sexo, na civilização, é mais do que parece ser. É gozo também. Mas, dependendo das circunstâncias, ele pode ser negado no sentido de se atingir outro objetivo.
DOMINANTES
Durante o regime militar, as cenas dos filmes pornográficos brasileiros eram, de fato, discretas principalmente porque havia a censura. Outro problema era a visão passada nos filmes e reforçada nas conversas nas ruas: uma mulher gostava de sentir dor no ato sexual.
Daí, a ideia de estupro não fazia muito sentido, pois quanto maior fosse a imposição do homem, maior seria a satisfação da mulher. Além disto, não era permitido a uma mulher “séria” sentir prazer na relação sexual – isso seria coisa de prostituta.
Portanto, de acordo com essa mentalidade, havia um quadro complexo e contraditório que, no final, favorecia somente ao homem, que assumia o papel de ativo e dominador.
Na Grécia Antiga, em outro tipo de relação, entre um homem e um rapaz, havia também a associação entre ser ativo e ser superior:
“E pode-se compreender, a partir daí, que há, no comportamento sexual, um papel que é intrinsecamente honroso e que é valorizado em pleno direito: é o que consiste em ser ativo, em dominar, em penetrar e exercer, assim, a sua superioridade.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 190)
Mesmo nesse tipo de relação, o prazer não era permitido ao indivíduo que exercia o papel de passivo na relação sexual:
“E ninguém é tão severamente condenado como os rapazes que manifestam, por sua facilidade de ceder, pela multiplicidade de suas ligações, ou ainda, por sua postura, sua maquiagem, seus adornos ou seus perfumes, que eles podem encontrar prazer em desempenhar esse papel.” (Michel Foucault, O Uso dos Prazeres, p. 197)
Em suma, a relação sexual aparece como uma relação de dominação e os próprios termos utilizados – ativo e passivo – confirmam essa premissa. No que diz respeito ao prazer, socialmente, ele pode ser permitido ou proibido. Contudo, do ponto de vista individual, a questão é saber encontrá-lo e senti-lo intensamente.
A MULHER TRÁGICA
Boas estratégias não livram o indivíduo dos problemas. Podem, porém, ajudar na escolha do tipo de situação em que estará envolvido.
Encontrei, numa antiga revista Playboy (novembro de 1980), um artigo sobre os “dez tipos de mulheres que dão mais problemas do que prazer” (o autor é Harry Stein).
Machismo. Provavelmente. O que deve ser evitado, de fato, não é essa ou aquela mulher. Para ser feliz, é necessário evitar o contato com os seres humanos. Evitar não significa acabar com os contatos. Evitar significa simplesmente… evitar.
As pessoas, geralmente, são muito chatas e pode ser considerada razoável a possibilidade, a partir de uma “inocente” conversa, de ficar com dor de cabeça ou irritado. Na internet, pelo menos, basta “deletar” ou desligar o computador.
Voltando ao artigo de Harry Stein.
Entre os dez tipos, um pode ser considerado comum. Trata-se da trágica. O autor explica o perfil dessa mulher:
“(…) [é] incapaz de experimentar emoções que não sejam as mais dolorosas possíveis
(…) só sente feliz, quando se sente infeliz.
(…) se não tiver motivos para isso, criará alguns, num clima de piração absoluta, cheio de longos papos sofridos.
(…) [usa isso] para dar pretexto para especulares reconciliações.
(…) [inventa] novos motivos para sofrer.
(…) [dá] margem a um enorme sofrimento, mil papos ‘fundamentais’ e, finalmente, a uma fulminante reconciliação.”*
O perfil da trágica está associado ao universo das novelas brasileiras.
(*) Harry Stein. Dez tipos de mulheres que dão mais problemas do que prazer. Playboy, Novembro de 1980, p. 156.
SUICIDE GIRLS & TUMBLR
Pela minha profissão, tento teorizar, compreender por que tal coisa acontece, mas também vivo essas experiências novas – gosto de algumas e de outras não. Muitas, confesso, eu evito. Não é preconceito. É falta de interesse, de desejo, apesar de respeitar as escolhas de todos.
Nas relações sociais, o novo é fundamental para mim. Talvez por isso me interesso tanto pelo estilo das Suicide Girls. Na minha opinião, elas representam mais do que um bando de ninfetas tatuadas que posam nuas. Basta seguir qualquer uma delas no Tumblr para perceber que existe algo mais. Elas rompem com o tal padrão de beleza e, até agora, evitam impor uma única forma de se apresentar. Pode ser magra, gorda, usar óculos, ser hetero ou homossexual ou os dois… Adoro os cabelos coloridos: rosa, azul, verde… Enfim, elas demonstram que algo acontece e o que aparece nos seus corpos seria apenas a ponta de um “iceberg” de uma transformação comportamental e mental muito maior.
Já disse que associar as Suicide Girls à necrofilia é uma bobagem. Existe uma relação com o instinto da morte, mas Freud já dizia que isso acontece com todo indivíduo. Elas se aproximam das Gothic Girls, que também me atraem muito, com suas roupas negras, maquiagem pesada, um estilo de música específico e a fascinação pela morte e por cemitérios.
Acredito que essas garotas representam algo novo na atualidade. Seria bom ou ruim? Quem se importa? É gostar ou viver a sua vida diária, com o seu terno e gravata, no escritório, tomando um chopp depois do expediente com os colegas e, em ocasiões especiais, comprando uma joia na H-Stern (ou na Vivara) para a sua namoradinha pequeno-burguesa (que certamente reclamará do modelo escolhido).
Sim, existem mudanças. Existem escolhas. Existe uma vida que não espera.
MULHERES NO FUTEBOL
A luta pela igualdade entre os sexos permitiu que as mulheres assumissem profissões que eram tradicionalmente associadas ao universo masculino. Isso aconteceu mesmo em um ambiente machista como o futebol.
Uma gandula – Fernanda Lima – ganhou destaque numa partida entre o Vasco e o Botafogo (em 2012) quando
“(…) devolveu rapidamente uma bola que havia saído pela lateral. A bola parou nas mãos do seu ídolo, Maicosuel, que bateu o lateral para Márcio Azevedo, que fez o cruzamento para o gol de Loco Abreu (…). Botafoguense de carteirinha, Fernanda participou da volta olímpica (…).”*
Na época, associada ao fato inusitado, a gandula teve aquilo que Andy Warhol chamou de “15 minutos de fama”…
“In 1968(…) He squinted ahead and declared that ‘in the future, everyone will be world famous for 15 minutes’.”**
Fernanda Lima, bonita e com 23 anos, deu entrevistas e suas fotos, algumas em ensaios sensuais, fizeram sucesso na internet.
Outro fato, recentemente, chamou a atenção. O técnico de um time de Santa Catarina, Celso Teixeira do Juventus,
“(…) reclamou com a auxiliar Maira Americano Labes e foi expulso pelo árbitro Paulo Henrique Godoy Bezerra.
O cartão vermelho foi mostrado aos 16 minutos do segundo tempo e o treinador precisou ser retirado de campo pela Polícia Militar. Na saída, segundo a súmula da partida, teria dado um recado à bandeirinha:
- Vou sair, sua gostosa – escreveu Bezerra.”***
Aqui chamou a atenção o fato de que mesmo com raiva da bandeirinha (que teria sido a causa de sua expulsão), o técnico a chamou de “gostosa”. Em outras palavras, mesmo irado com a atitude da profissional, ele não conseguiu xingá-la com uma palavra feia, afinal, o que saiu de sua boca foi: “sua gostosa”. Tratava-se, na verdade, do reconhecimento da beleza da garota mesmo discordando da atitude profissional dela. Em suma, ainda causa confusão aos homens ter de se posicionar, em ambientes competitivos, diante de belas mulheres e não dos antigos rivais, diante dos quais, aliás, eles sabiam exatamente o que falar e o que fazer.
(*) Gandula musa ajuda no primeiro gol e participa da volta olímpica alvinegra. globoesporte.com. 29-04-2012. http://globoesporte.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2012/04/gandula-musa-ajuda-no-primeiro-gol-e-participa-da-volta-olimpica-alvinegra.html
(**) Josh Tyrangiel. Andy Was Right. Time. Dec. 25, 2006. http://content.time.com/time/magazine/article/0,9171,1570780,00.html
(***) Em súmula, juiz cita recado de técnico a auxiliar após expulsão: ‘Sua gostosa’. globoesporte.com. 09-04-2014. http://globoesporte.globo.com/sc/futebol/campeonato-catarinense/noticia/2014/04/em-sumula-juiz-cita-recado-de-tecnico-auxiliar-apos-expulsao-sua-gostosa.html
AS REBELDES
Posted on February 15, 2014 by profelipe
Após a morte do cinegrafista da Rede Bandeirantes, Santiago Andrade, os Black Blocs ficaram mais ainda em evidência.
Neste último momento, uma personagem entrou em destaque (além dos responsáveis pela morte): Elisa Quadros Pinto Sanzi, a “Sininho”. Ela aparenta um jeito delicado, é bela mas a sua “práxis” parece ser de uma guerreira. Desde as manifestações de junho de 2013, ela participa e luta ao lado dos Black Blocs.
Sininho não foi a primeira. Antes, para ilustrar uma reportagem sobre o tema, em20/08/2013, “Emma, de 25 anos, integrante dos black blocs no Rio” apareceu na capa da revista Veja. Depois, foi a vez de Daniela Ferraz, a “Pantera”, ser capa da revista Época na edição de 08/11/2013. Os Black Blocs ficaram revoltados com os conteúdos das matérias tanto da Veja como da Época.* **
Agora, na edição de 15/02/2014, o destaque da capa da revista Veja foi a Sininho. Pelo perfil editorial da revista e pelo que foi escrito sobre ela e os Black Blocs, mais uma vez eles não ficarão satisfeitos com a maneira como foram tratados pela grande mídia nacional.
A intenção, aqui, não é avaliar a participação política dos Black Blocs. O objetivo é tentar discutir como garotas belas e jovens envolvem-se em movimentos sociais violentos e, como os rapazes, acabam sendo reprimidas por isso (inclusive com a prisão).
Tal fato não pode ser explicado só pela questão da classe social, afinal, a Sininhomorou (e mora) em Copacabana, frequentou faculdade e domina técnicas de oratória e de liderança, mas, por outro lado, Dani “A Pantera” possui “31 anos, é mãe e ex-presidiária.” (Época, 08/11/2013)
Talvez o perfil de Emma ajude a entender melhor o envolvimento das jovens com os Black Blocs. Nas suas críticas ao conteúdo apresentado pela revista Veja, entre outras coisas, ela afirmou:
“Black bloc não é grupo e sim uma tática de manifestação. Não tenho como ser integrante de uma coisa que não existe.” *
No que diz respeito “ao relato sobre consumo de drogas e sexo promíscuo”, Emma falou:
“‘Entre um baseado e um gole de vodka, (…) vinho barato e cocaína !’ Onde isso?” *
Em o Pragmatismo Político, espaço que divulgou as reclamações da militante, foi destacada a questão da beleza feminina:
“As fotos nas quais ela aparece (capa e miolo) são assunto polêmico. Ainda que através de uma elíptica fenda apenas se revelem os olhos azuis, sobrancelhas finas e um pouco do nariz, todos de traços sugestivamente médio-orientais e de ar misterioso, fica evidente que Emma mexe com a curiosidade.” *
A resposta de Emma foi categórica:
“Obrigada, mas a reportagem não mexeu com meu ego. Não adianta nada a foto estar bonita se o conteúdo é escroto. (…) Não vendi foto nenhuma, publicaram isso sem minha autorização.” *
Quando alguém insinuou algo como um pôster da garota, Emma afirmou:
“Pôster o caralho, já falei para parar com a idolatria. Não vim aqui para mostrar a bunda, vim mostrar o que tenho no cérebro.” *
Essa última frase talvez possa resumir o perfil das militantes radicais. Elas têm simpatia pelo anarquismo e, assim, são contra o Estado, a hierarquia, a autoridade e, claro, as visões simplistas daquilo que deveria ser o papel da mulher na sociedade.
(*) Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/08/menina-black-bloc-rebate-materia-de-capa-da-revista-veja.html
(**) Pragmatismo Político: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/11/lider-black-bloc-inventado-pela-epoca-enfurece-ativistas.html
OUTRAS FONTES:
Época: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/bblack-blocs-afirmam-que-sao-financiadosb-por-ongs-nacionais-e-estrangeiras.html
Época: http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2013/11/bpor-dentro-da-mascarab-dos-black-blocs.html
Tribuna Hoje: http://www.tribunahoje.com/noticia/94033/politica/2014/02/14/ativista-sininho-e-chave-do-quebra-cabeca-dos-black-blocs.html
Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/pagina-do-black-bloc-faz-ameaca-a-quem-revela-detalhes-do-grupo
Veja: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/os-black-blocs-tem-agora-uma-morte-sobre-os-ombros
Veja: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/o-bando-dos-caras-tapadas-quem-sao-os-manifestantes-baderneiros-do-black-bloc-que-saem-as-ruas-para-quebrar-tudo/
Zero Hora: http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/policia/noticia/2014/02/quem-e-sininho-a-ativista-que-virou-personagem-nos-protestos-dos-black-bloc-do-rio-4419794.html
GAROTAS E COBRANÇAS DA SOCIEDADE
Os músicos de heavy metal, antes, eram os acusados pelos suicídios dos adolescentes, como foi o caso da música “Suicide Solution” do Ozzy Osbourne. O vocalista chegou a ser processado por causa do suicídio de dois jovens nos Estados Unidos, mas foi considerado inocente.*
A internet, atualmente, aparece como a vilã neste processo. O Tumblr é acusado de abrir espaço para as pessoas que elogiam o suicídio e a automutilação.
Entretanto, o problema é mais complexo. Antes de acusar músicos e websites, os pais deveriam fazer uma autocrítica e verificar o que levou os filhos a optar por determinados estilos de música ou mesmo escolher navegar em determinados websites.
Esta polêmica foi retomada em janeiro de 2014, na Inglaterra, com o suicídio da adolescente Talluah Wilson, de 15 anos.
Para a mãe, a filha tinha uma vida dupla: uma “real”, como “dançarina com um futuro promissor no Royal Ballet School;”** e a outra personalidade seria “virtual”, criada pela garota no Tumblr, onde ela elogiava o excesso de álcool e cocaína e postava fotos de automutilação.
A mãe dá a entender que a culpa do suicídio seria deste tipo de espaço na internet que induziria os jovens ao suicídio.
No entanto, neste caso específico, a adolescente “havia sido diagnosticada com depressão clínica”, uma doença que pode levar ao suicídio. No Twitter, as mensagens (de Talluah Wilson) foram claras:
. “Eu nunca serei linda e magra.”
. “Eu não tenho plano para o meu futuro.”
. “Por que eu deveria ficar [por aqui] se ninguém fica comigo? Para mim, já deu. #suicide #goodbye.”***
Além das doenças genéticas (como a depressão), deve ser considerada a cobrança que a sociedade faz em relação às garotas: devem ser sempre belas e magras, devem ser as melhores profissionalmente, devem ser bem casadas e ter filhos, entre outras exigências.
Em um contexto tão estressante, muitas adolescentes acabam desistindo de viver porque percebem que nunca serão boas o suficiente e nunca agradarão totalmente aos próprios pais e todos aqueles que aparecem como pessoas importantes para elas. É triste. É muito mais complexo do que buscar colocar a culpa numa música ou num website.
(*)http://www.songfacts.com/detail.php?id=1303
(**)http://www.dailymail.co.uk/news/article-2544080/She-clutches-toxic-digital-world-Mother-dancer-15-threw-train-creating-online-cocaine-fantasy-warns-parents-beware-children-internet.html
(***) Frases do Twitter no original:
. “I will never be beautiful and skinny.”
. “I have absolutely no plan for my future.”
. “Why the f*** should I stay if no one around me stays for me? I’m done.” #suicide #goodbye.’
OSTENTAÇÃO E BELEZA
Existe uma música do Queen que o título aparece em forma de pergunta: “É Este o Mundo Que Nós Criamos?” São apresentadas, na letra, situações injustas que acontecem em nosso planeta:
“Você sabe que todo dia nasce uma criança indefesa
Que precisa de um pouco de carinho dentro de um lar feliz…
Em algum lugar um homem rico está sentado em seu trono
Esperando a vida passar…”*
As pessoas já se acostumaram com tais imagens e por isso elas aparecem como obviedades. Entretanto, o abandono de criança e a ostentação do rico geram problemas mais graves. Aline Tostes levanta algumas questões neste sentido. Ela analisa a associação do “funk ostentação” com a venda de drogas. Em seu artigo, uma temática apontada seria a ausência do pai (a figura paterna, a imagem da autoridade):
“(…) [existe] a falta de base familiar. (…) a maioria dos adolescentes não conhece o pai. Vivem com as mães, avós e tias, que muitas vezes passam o dia na labuta e eles têm que dividir as responsabilidades da casa.”**
A ausência da figura do pai na educação da criança (e do adolescente) torna-se decisiva quanto ao respeito ao outro principalmente em relação às autoridades (como professores, policiais e juízes).
A letra da música do Queen ainda se refere ao “homem rico (…) sentado em seu trono.”* Ou seja, existe um elogio da ostentação na sociedade. Sem uma formação adequada, essa ideologia soa perfeita ao imediatismo e às ilusões dos adolescentes. É neste contexto que deve ser compreendido o chamado “funk ostentação”:
“O novo funk estourou com tamanha força na Baixada Santista que os estilos pancadão e proibidão, apelos ao sexo vulgar e ao uso de drogas, influenciados pelo Miami bass e pelo rap americano, foram abolidos dos palcos. A batida que agora funde classe media e periferia no litoral sul paulista é outra: ‘vida é ter um Hyndai e uma Hornet / 10 mil pra gastar / Rolex e Juliet’. A rima de MC Danado mostra que o funk ostentação é ‘top do momento’, como já sugere o título da sua música com mais de 200 mil visualizações no You Tube. Para quem não entendeu a letra do MC, antes conhecido como André Moura, office boy de uma sapataria da Zona Leste de São Paulo, ele fala das marcas de carro, moto, relógio e óculos, além do dinheiro.”*
Para manter esta ostentação, além do envolvimento com o tráfico de drogas, os jovens roubam lojas (isso esteve associado aos “rolezinhos” em shopping centers) e outros estabelecimentos. Existem casos que os adolescentes roubam especificamente as lojas de grandes marcas, levando os produtos caros e não “focando” mais no dinheiro do caixa. Roubam carros só para passear nas “baladas”.
A imagem é o ponto central na atualidade. Não precisa ser rico, mas é importante parecer que é rico. Isso leva a outro problema: a ostentação pode causar inveja, o que aumenta a rivalidade entre os jovens. Trata-se da velha questão: o que você provoca no outro?
Tal situação chegou ao absurdo de, nesta semana, uma garota de 15 anos ser agredida fisicamente na escola (por outras meninas) por “ser bonita”.***
A rivalidade não está na defesa de ideias e valores. A violência aparece como resultado do que uma imagem de uma pessoa provoca nos outros.
A ausência de valores adequados para o convívio em sociedade, o excesso de individualismo e a valorização dos bens materiais só contribuem para agravar a situação.
(*) Is This The World We Created? Queen. http://letras.mus.br/queen/86804/traducao.html
(**) Aline Tostes. Funk ostentação é a isca para menores ingressarem no tráfico de drogas em Florianópolis. Notícias do Dia. 10/04/2014. http://ndonline.com.br/florianopolis/noticias/115638-funk-ostentacao-e-a-isca-para-menores-ingressarem-no-trafico-de-drogas-em-florianopolis.html
(***) Garota é espancada dentro de escola em Limeira por ser bonita, afirma pai. G1 globo.com. 09/04/2014. http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2014/04/garota-e-espancada-dentro-de-escola-em-limeira-por-ser-bonita-afirma
CASAIS & PALAVRAS
As mulheres são sutis. Os homens são explícitos. As mulheres não falam o que desejam, enviam sinais. Os homens são óbvios e não disfarçam o que querem. Veja o exemplo de Barbara De Angelis:
“Muitas pessoas evitam falar durante o sexo, porque isso revelariao desejo e as deixaria expostas ao outro. Eu posso sentir que o toque do meu namorado me faz sentir excitada, mas se eu falar ‘o seu toque me deixa excitada’ então eu teria certeza que ele saberia e, assim, me sentiria vulnerável. As minhas palavras dão a ele poder sobre mim, esse poder vem do fato que ele sabe que a sua sedução funcionou comigo na medida em que eu o desejo.”*
Barbara De Angelis usa “pessoas” no início, quando deveria utilizar “mulheres”. No resto da citação, ela assume que seria uma mulher diante de um homem e diz que a mulher evita falar pois isso daria poder ao homem na medida em que ele saberia que “sua sedução foi certeira e que a mulher o deseja.” Poder e saber, diria Michel Foucault.
A questão é: qual seria o problema dele saber que ela o deseja? Falar significaria dar ao outro a certeza de seu poder. Mas, o sexo não deveria estar relacionado a algo emocional e a perda da razão?
O problema é que muitas pessoas, não só as mulheres, usam o sexo como um meio para atingir um objetivo (casamento, dinheiro, um carro novo…) e não percebem que o sexo existe em si, como algo natural e agradável para os envolvidos. É tão bom porque existe a necessidade biológica da procriação, da preservação da espécie… mas na hora do ato, as pessoas não deveriam pensar nisso (nem em outra coisa) e sim deveriam sentir o que a natureza proporciona na “união de dois corpos”. Qualquer reflexão sobre os motivos que levariam aquele casal para a cama deve ser feita antes do sexo. Afinal, na hora do amor, “fuck the rest.”
(*) Barbara De Angelis, em 1995, no seu livro: "Real Moments for Lovers" (apud, James R. Petersen, Playboy, September 1996, p. 42).
DILEMAS & “D.R.”
Algumas mulheres adoram testar os homens.
O objetivo, é difícil dizer, pode ser que elas queiram verificar se eles são fiéis, se estão mentindo, se querem casar ou se elas realmente têm o controle da relação. Muitos se sentem como ratos de laboratório. Basta um olhar da mulher, que ele pára o que está fazendo: “é um sinal… posso fumar? posso beber mais uma? posso jogar futebol com os amigos?” Na dúvida, ele pergunta: “posso?” Ela responde: “você quem sabe.” O homem piora a sua situação e para evitar atritos, leia-se DR (Discutir a Relação), deixa de fazer o estava pretendendo.
Talvez as mulheres achem exagerados os exemplos citados. Talvez alguns homens tenham passado por situações semelhantes. Talvez… talvez… Sim, porque não existe uma única resposta que possa satisfazer plenamente um homem e uma mulher numa relação. Por isso, muitos mentem, omitem ou fogem de qualquer forma de compromisso.
Contudo, não há como negar: um preciso do outro. Entretanto, qual seria o preço a ser pago para ter uma vida de casal? Será que vale a pena? A minha resposta, pessoal, seria: “eu não faço a mínima ideia.” Estive nos tais três momentos: vida de solteiro, namorando ou casado. Qual seria melhor? Isso, naturalmente, dependerá de cada um.
Viver é lidar com dilemas, dúvidas e problemas. Sozinho ou como casal, a vida não torna-se mais fácil. Trata-se, no final, de uma escolha particular, individual.
VER E SER VISTO
O indivíduo é observado o tempo inteiro (desde uma pessoa comum até os líderes políticos mundiais). Existem câmeras em todos os lugares, com permissão ou não, filmando tudo e todos. Mesmo em casa, você pode estar sendo visto, sem saber, enquanto usa o computador ou faz qualquer outra atividade. Existe tecnologia para isso, como ficou claro no escândalo recente de espionagem dos Estados Unidos.
O uso da internet facilitou bastante este processo. A imagem de qualquer pessoa “corre o mundo” ao vivo, na hora. Alguns reclamam que não existe mais privacidade. É verdade e reclamar não resolve coisa alguma. É assim e pronto pois, como foi dito antes, existe tecnologia para isso e o ser humano é capaz de (quase) qualquer coisa.
Uma questão que surge, neste contexto, é como a pessoa quer “ser vista”. A sua imagem pode ser produzida, as fotos que ela coloca no facebook são editadas e selecionadas. Não existe espaço para ingenuidade.
O indivíduo na rua, no espaço público, com suas roupas, jeito de andar, entre outras coisas, passa uma imagem para os outros. Ele pode ter consciência disto ou não. As pessoas podem acreditar naquela imagem ou não. Não dá para ser invisível. O espaço público, como diria Hannah Arendt, é o espaço da aparência.
O mesmo processo acontece na internet. Ser visto significa ser percebido como um ser com algumas características (que, eventualmente, estarão enquadradas num perfil, num padrão). O problema fundamental tanto na rua como na “vida on line”, claro, seria qual imagem passar, como a pessoa gostaria de ser vista pelos outros. Ela pode assumir vários “personagens” de acordo com o público que ela deseja atingir. Toda a construção de cada imagem pode dar resultado ou não.
Eis aqui o outro lado do processo: acreditar na aparência, de maneira imediata, é ingenuidade. Tudo deve ser problematizado. Parecer não é ser. Tudo que é visto (pessoas, fotos, vídeos, ambientes, entre outras coisas) deve ser percebido com um olhar de desconfiança. Tudo deve ser questionado, como se fosse um trabalho de detetive, o que significaria “aquilo”, “por que está ali”, “por que chamou a atenção” e assim por diante.
Ver é questionar. Viver é problematizar. A lógica de tudo isso pode ser descartada quando prevalece, no indivíduo, o lado emocional, afinal, ele não é só “uma máquina racional”. Faz parte do jogo da civilização.
Além de saber o que deseja mostrar e desconfiar do que vê, a pessoa deve tomar cuidado com o que realmente pretende saber. É dito que ler sobre tragédias coletivas pode causar crises de depressão ou de ansiedade. Isso é importante. Saber “tudo” sobre os outros pode não ser algo interessante. Pense, por exemplo, no fim de um namoro. Mesmo sem assumir, os dois lados desejam saber se o outro está feliz ou se arrumou outra pessoa ou qualquer outra coisa neste sentido. O outro pode produzir (sobretudo nas redes sociais) imagens de que está feliz e bem melhor do que na época do namoro. Não existe novidade nisto. Uma festa pode estar horrível e a “boite” vazia, mas, mesmo assim, quem está no lugar consegue produzir uma imagem de que tudo estaria maravilhoso e, assim, causa inveja em quem não está lá.
O homem é, antes de tudo, um ser natural, com instintos como qualquer animal. Ser civilizado (racional) significa contrariar (ou, no mínimo, problematizar) esses instintos. O egoísmo, na sociedade, precisa ceder espaço ao seu oposto, o altruísmo. Claro que não dá certo e é por isso as pessoas são tão neuróticas e mal resolvidas.
A problemática central, em resumo, seria lidar com a razão e a emoção em si mesmo, com os conflitos internos do Id, ego e superego e, nas relações com o mundo exterior, saber administrar a realização do próprio desejo com o respeito ao espaço do outro. Simples? Não. Entretanto, não existe outro jeito.
FOTÓGRAFOS
Adoro imagem. Fiz, quando era graduando, uma disciplina de Fotografia na UFU (quando não existia máquina digital). Sempre gostei de fotos de belas mulheres (não necessariamente nuas).
A primeira Playboy que comprei foi em 1978, quando a “sexy symbol” daquele momento era Farrah Fawcett. Ela recusou posar nua para a revista. Só aceitou no final da vida, quando estava viciada em drogas e sofria de uma grave doença. Na época, deu uma entrevista desconcertante (drogada) na TV norte-americana. Entretanto, não deixou de ser o principal ícone feminino da década de 1970.
Neste período, a atriz Sandra Bréa, aqui no Brasil, era o símbolo de bela mulher. Foi casada com Antônio Guerreiro (que nunca considerei um grande fotógrafo). No “cenário das mulheres nuas”, J.R. Duran era imbatível no país. Nos Estados Unidos, eu gostava bastante do trabalho do Ken Marcus para a Playboy. Depois da década de 1990, surpreendentemente Ken Marcus começou a tirar fotos de BDSM (o trabalho ainda é bom, mas prefiro a fase anterior).
Voltando a Sandra Bréa, ela também teve um fim trágico: morreu de AIDS. Vi entrevistas dela no final da vida e fiquei impressionado em ver a maneira como ela falava da doença e a falta de rancor diante do que o destino havia lhe reservado.
As pessoas adoram falar mal do Sebastião Salgado. Inveja. Bobagem. Vi a exposição dele “Os Trabalhadores” no MASP na década de 1990. É o maior fotógrafo brasileiro (na minha opinião).
Fora do Brasil, não existe conversa: o melhor de todos é mesmo Henri Cartier-Bresson.
TOTALITÁRIOS
Por que, aqui no Brasil, as pessoas colocam fogo nos indivíduos que moram na rua?
Por que, nos países europeus, diante de uma crise econômica, a culpa sempre recaí sobre os imigrantes?
Primeiro, aparece a velha estratégia de colocar a culpa na vítima:
“Os desamparados tornam-se, na nossa mente, a causa dos problemas deles mesmos, e as dificuldades que enfrentam, uma evidência da sua inferioridade moral.” (David Bell, p. 74)
Segundo, no que diz respeito aos europeus, como exemplo, basta lembrar o discurso de Adolph Hitler, que defendia que os alemães seriam capazes de vencer qualquer nação:
“(…) cuja consciência de raça [estaria] infectada por estrangeiros.” (A Arte da Entrevista, p. 117)
Terceiro, para assassinar, torturar e criar “campo de concentração”, é necessário criar a ideologia de que quem sofre não seria “gente”:
“Quanto maior a degradação, maior a probabilidade dele ser considerado não humano e, portanto, indigno da preocupação habitual com pessoas.” (David Bell, p. 74)
Assim, a maioria resolveria um problema fundamental: se não é gente, não existe culpa:
“Dessa perspectiva, tais grupos podem ser tratados impunemente sem nenhum sentimento de culpa.” (David Bell, p. 74)
Tudo isso, claro, lembra o discurso reacionário de um personagem no filme “V for Vendetta”:
“Eu estava lá, vi tudo. Imigrantes, muçulmanos, homossexuais, terroristas. Doenças. Eles tiveram que ir.”*
Entretanto, as experiências totalitárias na história demonstraram claramente que esse não é o caminho.
(*) ”I was there, I saw it all. Immigrants, Muslims, homosexuals, terrorists. Disease-ridden degenerates. They had to go.”
FORA CINQUENTÃO!
Existe uma mentalidade geral na sociedade que defende a tese do “Fora Cinquentão!”
Quem passa dessa idade, é visto pelos outros sempre com conceitos negativos. Quando alguém quer agradar, diz algo e logo vem com um “mas você não parece que tem essa idade”.
Na história do rock, falar em idade significa falar em Rolling Stones.
O seu guitarrista, Keith Richards, sempre foi o primeiro da lista, durante décadas, dos que iriam morrer de “overdose”. Entretanto, mesmo como todos os seus excessos, continua vivo.
Keith Richards é uma exceção. No que diz respeito aos cinquentões (ou mais velhos do que isso), todos que conheço estão em crise. Alguns, claro, são alienados demais para admitir isso. Mas, não tem jeito, depois dos cinquenta, vem o declínio – em todos os sentidos – em direção à morte. Como disse um amigo, começa um caminho, na vida, descendente.
É ruim? O processo é chato, mas o resultado final – a morte – aparece como uma recompensa. Afinal, como diz uma música do Mötörhead:
“Eu não quero viver para sempre.” (“I don’t want to live forever”)
Isso não quer dizer, obviamente, que o indivíduo irá morrer amanhã. Para citar uma fala do Marv, um personagem de história em quadrinhos do Frank Miller, em “A Cidade do Pecado”:
“Eu sabia que não seria tão simples assim…”
É isso.
INFÂNCIA
Ao tornar-se civilizado, o homem tornou-se complexo e contraditório. Deixou de realizar automaticamente o seu desejo. O preço dessa mudança é pago por cada indivíduo até hoje.
Freud já alertava para o conflito entre o desejo da pessoa (egoísmo) e o interesse da sociedade (altruísmo) que existiria em cada indivíduo. O resultado deste conflito pode, claro, tornar a pessoa infeliz, dissimulada e com um grande medo do passado ou do futuro.
Não é possível que o homem entenda o presente sem relacioná-lo com o passado, sobretudo com o que aconteceu na infância. Ela é a base de tudo.
No depoimento de um agente do FBI no DVD do filme “Silêncio dos Inocentes”, analisando os casos reais nos Estado Unidos, ele afirma:
“Na minha pesquisa, não acredito que alguém nasce como um ‘serial killer’ (assassino em série). Com ‘serial killers’ ou estupradores, existe alguma experiência na infância.”
Na história do filme (“O Silêncio dos Inocentes”) , uma agente do FBI, a personagem Clarice, precisa da ajuda de um psiquiatra que encontrava-se preso por vários crimes e era conhecido como “canibal” ou Dr. Lecter. Ela necessitava da experiência (e inteligência) desse psiquiatra para capturar um “serial killer”, que seria apresentado por Dr. Lecter da seguinte maneira:
“Nosso Billy não nasceu um criminoso, Clarice. Ele tornou-se um após passar por anos de abuso. Billy odeia a sua própria identidade e ele acredita que isso o transforma em transexual. Mas a sua patologia é mil vezes mais selvagem e terrível.”
Dois autores, sem desconsiderar a importância da infância, procuram, de certa forma, ir além dos pressupostos de Freud:
“(…) Stolorow e Atwood referem-se a outro modo de impedir que acontecimentos ruins na infância cheguem à consciência, não por serem reprimidos, mas porque não são aprovados por figuras importantes no meio da criança e portanto não se pode reconhecê-los nem pensar neles.”
Contudo, Stolorow e Atwood admitem que esses traumas ocorridos na infância podem, um dia, aparecer na consciência da pessoa:
“Os autores apresentam o exemplo de uma moça de 19 anos que sofreu um colapso psicótico.
Quando a garota era mais jovem, o pai a violentara por muitos anos. Era o segredo de pai e filha. (…) o abuso sexual contrastava enormemente com a aparência externa de normalidade: os membros da família eram bem-vistos na comunidade e frequentadores assíduos da igreja. Portanto, havia uma acentuada dissociação na família e na vivência da moça.”
Em suma, o trauma que aconteceu na infância – que “não poderia ser reconhecido” – em algum momento, abandona o inconsciente e torna-se claro para a vítima. Muitas vezes isso ocorre no início da vida adulta e no caso do exemplo citado o resultado foi um colapso psicótico.
UM ESTRANHO MOVIMENTO
Uma pessoa diz que tem uma ótima proposta para lhe oferecer (no fundo, porém, ela sabe que você não poderá aceitar tal proposta)
Posteriormente, a mesma pessoa diz que você teria sido mais feliz se tivesse aceitado aquela proposta e que fulano aceitou e está muito feliz.
Diz que você está insatisfeito porque quer e que ainda bem que você a tem como sua amiga, uma pessoa que só quer o “seu bem”.
Parece que subestimar a inteligência do outro seria uma espécie de “hobby” para alguns indivíduos.
O pior é quando esse tipo de pessoa combina, nas suas costas, com vários indivíduos para defender a mesma tese.
Trata-se de uma conspiração, que todos parecem querer o “seu bem”, mas, de fato, sabem que estão te sacaneando e que qualquer coisa que você falar parecerá que você é simplesmente um ingrato que não reconhece o “bem” que eles desejam para você.
QUEM ENGANA QUEM?
Algumas pessoas acham que me exponho demais nos textos opinativos.
Primeiro, vai uma sugestão: leia as entrevistas de Charles Bukowski sobre os questionamentos se os seus livros seriam autobiográficos.
Segundo, quem te garante que o que você lê foi um fato ou uma fantasia (ou os dois).
Terceiro, pessoas desse tipo juram que vestindo terninhos e seguindo os conselhos da revista Você S.A., elas conseguem enganar os outros e esconder os seus defeitos e fragilidades… por favor!! Ninguém engana ninguém! Não é porque um bando de puxa-sacos supostamente avalizam a sua fantasia, que isso signifique que o seu mundo – poder, dinheiro e sexo – seja verdadeiro e real.
RAZÃO
Todo animal nasce com uma espécie de “saber genético”, que o ajudará no seus atos e nas suas escolhas, que estará relacionado ao seu medo, ao seu instinto.
O homem, além de ser um animal, com essas características, é um ser civilizado, o que reforçaria vários conflitos em sua existência: com a natureza, com os outros indivíduos e com ele mesmo.
Ele define a razão como a base da civilização. A negação da razão seria a loucura.
Na medida em que o discurso racional não apresenta todas as respostas para a sua existência, ele inventa algo “externo e superior” à civilização, que explicaria o que não tem lógica e apresentaria as famosas respostas sobre o que aconteceria antes do seu nascimento e depois de sua morte. Atualmente, o homem tenta conciliar essas duas formas de conhecimento (apesar de cada uma possuir os seus próprios critérios de definição do saber): o científico e o teológico.
ALGO ERRADO
Existe algo errado na pessoa que:
* usa silicone, botox, faz todo tipo de cirurgia plástica e acredita que ninguém perceberá a sua verdadeira idade;
* acha que os vizinhos, familiares e amigos não percebem o óbvio e acreditam na sua inocência e no seu discurso oficial;
* compra imóveis e carros mas precisa colocá-los nos nomes dos parentes;
* acredita que acumular dinheiro e bens materiais resolverá todos os seus problemas e esquece que a morte é uma certeza para todos;
* compra um apartamento financiado num prédio importante mas tem dificuldade de pagar o condomínio;
* tem pena dos outros mas se recusa a avaliar verdadeiramente a sua situação;
* acredita que ter um filho garantirá o casamento;
* tem mais de 50 anos e usa o trabalho em excesso para não pensar nofuturo: a morte;
* compra carro zero, mas financiado em 36 meses ou mais contando com a certeza do seu salário;
* não pensa na morte e acha que isso resolve o problema;
* ficou desempregada e aceita outro trabalho que paga (muito)abaixo do mercado;
* foi abandonada pelo marido ou esposa; tem mais de 40 anos e acredita que o mercado a tratará do mesmo jeito;
* abriu mais de 3 empresas e todas faliriam;
* formou, trabalha, tem mais de 30 anos e ainda mora na casa dos pais.
INVENÇÕES
A insegurança de uma pessoa pode ser percebida na sua excessiva preocupação com a inveja e o mau-olhado do OUTRO.
Ela atribui um poder ao OUTRO que ele efetivamente não tem.
Normalmente, a sua resposta para tal situação também está associada ao OUTRO, só que agora seria ao sobrenatural ou à religião.
Nos DOIS casos – a invenção do problema e da solução – não teriam a ver com a responsabilidade da própria pessoa.
Em suma, ela inventa, sofre, busca uma solução e se coloca como objeto de tudo isso que ELA CRIOU.
PREDISPOSIÇÃO GENÉTICA
Com base no saber científico, é afirmado que existe uma predisposição genética à depressão. Muito antes das pesquisas atuais, Schopenhauer (L’Arte de Essere Felici, Milano, Adelphi, 1997, p. 98) já falava em predisposição ao suicídio:
“A herança da susceptibilidade ao suicídio mostra que, na determinação de tirar sua própria vida, a parte subjetiva é certamente o mais forte.” *
Quanto ao conhecimento atual, os “pesquisadores na Washington University School of Medicine em St. Louis e no King’s College em Londres” afirmaram que estaria na genética a causa da depressão. Ou seja:
“geneticamente, há uma combinação no DNA no cromossoma 3 associado com a depressão.
(…) A análise da família revelou um histórico de depressão em muitos dos que enfrentaram essa doença, mas em poucos dos que não a enfrentaram. Há uma região no DNA com noventa genes onde parece que essa predisposição se origina. ” **
O que realmente importa é admitir tanto uma predisposição genética à depressão quanto uma predisposição ao suicídio. Em outras palavras, alguns indivíduos nascem tendências à depressão ou ao suicídio. Claro, um caso pode levar ao outro, ou seja, a depressão pode ser a principal causa do suicídio.
Neste contexto, como culpar alguém por ter depressão? Como fizer, por exemplo, que “uma pessoa irá para o inferno” porque ela “escolheu” o suicídio?
* “L’ereditarietà della predisposizione al suicidio dimostra che nella determinazione a togliersi la vita la parte soggettiva è senz’altro la più forte.”
** Gláucio SOARES. jb on line. http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/06/07/a-doenca-invisivel/
É AGORA!!
Sem dramas, sejamos claros: chega de imaturidade e de reclamar. Em que ponto da vida você está? Como aproveitar esse momento AGORA? Use passado a seu favor para não errar novamente e esqueça o futuro, ele não existe, pensar nele só gera ansiedade e você sofre por uma coisa que nem existe e, pior, deixa de ter prazer AGORA.
Em que ponto da vida você está? Afinal, qualquer pessoa vive em média uns 80 anos, um pouco mais ou um pouco menos. A questão é, objetivamente, em que “ponto” você está, 20, 28, 40, 50 ou 60 anos?
Pense: você tem zero de autonomia nos 10 primeiros anos da vida. Sobram 70. Até os 20 anos, a adolescência, mudança do corpo, hormônios, primeiro beijo, tudo parece novidade e divertido mas a insegurança o obriga a andar e viver em turma.
Entre os 20 e os 30, termina a faculdade e começa trabalhar, mas ainda mora com os pais. Ou seja, não tem uma independência verdadeira… No fundo, você ainda não saiu para a vida ! Ainda está fingindo para si mesmo e para os outros que finalmente chegou na vida adulta. Não. Você não chegou.
Nessa fase, deve pensar o que quer ou, no mínimo, NÃO ACEITAR o que não quer. Por exemplo, pode se recusar a participar daquela hipócrita reunião familiar no Natal.
Pense: imagine que você tenha 28 anos, está formado, trabalha, mora com os pais, sai com os mesmo amigos da faculdade, MAS ainda NÃO saiu para a VIDA.
Você sabe, no fundo, que existe algo errado. Os seus amigos sempre te elogiam e seus pais dizem que você é a pessoa mais inteligente e bonita do universo. Entretanto, você tem dificuldade para dormir. Algumas vezes, falta apetite ou você come demais.
Para não enfrentar a si mesmo, faz o que qualquer um faria nessa idade: bebe muito para esquecer da sua vida e para poder suportar os mesmos lugares, as mesmas pessoas, as mesmas reclamações e… você ainda não saiu para a vida. Finge. Mas a insônia diz que existe algo errado. O inconsciente é implacável, você não pode fugir. A partir dessa idade, ou você vive efetivamente a sua vida ou pagará um preço muito alto ao lidar com o seu próprio inconsciente.
O tempo não espera. As oportunidades (inclusive as amorosas e as sexuais) não se repetem. Não existe “replay’ na vida. É ao vivo. Pegar ou largar. Viver ou reclamar. Ser feliz ou lamentar. Arrepender é focar no passado, é não viver. Ter esperanças é focar no futuro, é não viver.
Você pode dar “unfollow” no profelipe que sempre diz “coisa nada a ver”, pode fingir que a demissão de 15.000 funcionários no governo da Grécia e a demissão de 12.000 trabalhadores na American Airlines seriam fatos normais e não irão atingi-lo. Pode ter visto o Bom Dia Brasil de hoje, 14-02-2012, e nem percebeu que uma das chamadas das matérias jornalísticas era “Por que o Brasil não cresce mais e não gera emprego?”
Você escolhe. A vida é sua. O outro não pode e nem quer fazer algo por você exceto o que cause algum prazer para ele também.
SABER OU NÃO *
1. “Daí você não depende de outra pessoa…”
Essa frase é uma ilusão. Você vive em sociedade, portanto, não importa a classe social, o sexo ou a idade, você sempre dependerá de alguém.
2. Evite as pessoas que te enchem o saco e só vêem o lado negativo das coisas, só te colocam para baixo.
Os amigos e os familiares que se enquadram neste perfil devem ser eliminados do seu convívio.
Não explique, simplesmente afaste-se destas pessoas.
Você não pode mudá-las e indivíduos assim sempre existiram e continuarão perturbando os outros. A condição humana possui vários lados negativos. Esse é um deles.
3. Lembre-se: a vida não é linear e muito menos evolutiva. São altos e baixos. Não existe decadência.
4. Cada indivíduo representa em si um conjunto de contradições: Id, ego e superego. Além disto, ele já nasce com informações na sua genética, com certas tendências… Ainda existe o inconsciente de cada um.
Agora, imagine uma sociedade que cada indivíduo desse fosse representado por um bola num jogo de bilhar. Repetindo: cada bola em si já é contém vários conflitos.
A sociedade é a “reunião” desses indivíduos.
De fato, ocorre um constante choque entre eles, que afeta cada um e todos ao mesmo tempo.
É o caos. É imprevisível. É o que eu chamo de chamado “efeito bilhar”.
Isso é um movimento “interno” que ocorre numa sociedade de indivíduos cuja unidade é complexa e contraditória.
5. A noção de tempo do homem é diferente do que seria o tempo no universo.
O tempo do homem foi inventado a partir dos movimentos do planeta terra (sobretudo diante do sol).
6. Cada indivíduo pensa a sua própria condição a partir de três perspectivas:
A) “Inside” ou “por dentro”, a sua saúde, o seu humor, a influência do inconsciente, entre outros fatores.
B) As micro-relações, ou seja, a avaliação das relações com familiares e amigos.
C) A sociedade… É necessário avaliar com os outros vêem e avaliam esse indivíduo pois isso o afetará emocionalmente.
Além destes três níveis, existem as relações com o próprio planeta e com o universo, mas essas relações podem ser consideradas “distantes” no sentido de avaliar o seu bem-estar no cotidiano.
7. Não é novo, mas vale repetir: a base da relação entre o indivíduo e a sociedade é o conflito. Trata-se de uma escolha: ou a PESSOA realiza o seu desejo OU realiza a vontade dos OUTROS.
Essa é a contradição: por sua condição, o indivíduo é CARENTE, precisa do outro… por relações de poder, o outro REJEITA o carente… A confusão está instalada sobretudo porque a base de tudo isso é a EMOÇÃO.
Em outras palavras, a pessoa inventar uma justificativa RACIONAL para explicar uma REJEIÇÃO, mas internamente aquela DERROTA não foi processada… Com o tempo, torna-se RANCOR ou VINGANÇA.
8. Não existe paz. Não existe segurança. Não existe estabilidade.
Não adianta reclamar.
Aprenda a conviver com as dúvidas e a certeza da morte ou escolha uma ilusão qualquer para se esconder da vida.
Alcoolismo, paixões, drogas, religiões e radicalismo na política fazem grande sucesso entre os alienados.
9. Escolher uma ilusão é montar uma bomba-relógio.
O mundo cor-de-rosa precisa apenas de um “gatilho” (“trigger”) para detoná-lo.
Esse “gatilho” pode ser “externo” ou “interno”.
Os ditadores são os melhores exemplos na medida em que se mostram como intocáveis (e o pior é que muitos acreditam nesta imagem).
Aspecto “Externo”: Apesar de ter o controle do Iraque, Saddam Hussein foi retirado do poder por uma força estrangeira (Estados Unidos) e depois foi enforcado.
Aspecto “Interno”: Mesmo controlando a população do seu país, a Venezuela, mudando a constituição e sendo continuamente reeleito, Hugo Chavéz descobriu que o seu principal recentemente: o câncer.
Contra a “natureza do corpo” não existem muitos argumentos… Não adianta “amar a vida, o poder e os bens materiais” e dizer “não quero morrer”… Morrerá. Como qualquer pessoa.
10. Duas maneiras básicas para lidar com os chatos: ironia e reação.
(*) Escrito em 19-02-2012.
SABÁTICO
No filme “Les Invansions Barbares”, um professor universitário é afastado por causa do câncer. No hospital, ele reclama que o reitor não foi despedir dele. Na sua última aula, era clara a indiferença dos alunos. Para piorar, numa discussão com o filho, o velho professor tem que ouvir a seguinte crítica: “… o que é melhor que mofar em uma universidade medíocre em uma província atrasada.” Para quem trabalhou tanto tempo em duas faculdades do interior, como foi o meu caso, trata-se de uma crítica e tanto.
Em suas reflexões, ele afirma que sentirá saudades sobretudo dos livros e das mulheres. Arrependimento? Ele diz que gostaria de ter escrito livros. Esse é um problema do professor de faculdade pequena: ele tem que dar muitas aulas e atividades como pesquisa e extensão não são valorizadas. Em resumo, ele torna-se uma “máquina repetidora de conhecimento”, que vende o seu tempo em troca do salário. Normalmente, ele usa isso como desculpa para não produzir. É uma desculpa interessante, se pensarmos as condições de trabalho que ele tem. No entanto, não deixa de ser uma desculpa.
Obviamente, me identifiquei com a história do professor do filme. Existem pontos comuns e divergentes. Apesar das faculdades não valorizarem, eu fiz duas teses, publiquei seis livros e escrevi artigos para revistas científicas. Produzi algo. Existem falhas nos trabalhos, reconheço, mas isso acontece com todos. O que importa é que arrisquei e publiquei. Arrependimento? Conscientemente, nenhum… Hoje em dia, costumo dizer que trabalhei tempo demais (a tal ideologia do trabalho…). Não sei, contudo, se isso seria um arrependimento.
O comum é ouvir perguntas sobre quando voltarei a dar aulas. As pessoas não acreditam que você possa viver sem estar associado a uma empresa ou instituição. Por quê não? Não sei se voltarei a dar aulas. Quando surge esse assunto, digo que sou formado para ser professor e pesquisador, ou seja, dou aulas, pesquiso e escrevo. Das três coisas, atualmente, só não trabalho em sala de aula.
Nas reuniões que participava como docente, era comum ouvir gente dizendo que gostaria de ter tempo para ler e escrever, sem se preocupar com o cumprimento de horários e com o cartão de ponto. Hoje eu tenho esse tempo. E leio e escrevo.
OBVIEDADES
As pessoas me odeiam muito facilmente. Eu devo ter uma espécie de dom. Conversando com outros indivíduos, percebi que isso não era só comigo, apesar de imaginar que não seja algo comum.
No meu caso, não me importo. Não explico o óbvio. Quer me odiar, com dizem, pegue um número e entre na fila.
Evito provocar as pessoas, mas já percebi que isso não é suficiente.
Eu não sou vítima das “forças incontroláveis do universo”. Nem sou importante para ser odiado.
Enfim, resolvo a questão de uma maneira bem simples: me relaciono só com quem gosta de mim. Não gosta? OK. Não brigarei. Só tenho o direito de não ter contato com tais indivíduos. É o mínimo, eu acho. Para mim, é o suficiente.
EXCESSOS NA NOITE
Os excessos na noite (álcool, sexo, drogas…) estão associados aos processos da autodestruição e do esquecimento. As pessoas querem apagar da memória, quase a qualquer custo, aqueles fatos desagradáveis de um cotidiano óbvio e patético – com as famosas cobranças “para o seu bem” feitas na família, na escola, no trabalho ou na igreja.
De imediato, com os excessos, os objetivos são alcançados. A sensação, na hora, é maravilhosa.
Entretanto, existe um problema: os excessos apagam fatos desagradáveis do cotidiano e o que é vivido na própria noite. É comum, no outro dia, os indivíduos lembrarem poucas coisas da noite anterior. Muitos acordem em lugares estranhos, sem roupas, e ao lado de pessoas que não sabem nem o nome. Mesmo assim, apesar da “ressaca moral”, fica um sentimento de que pelo menos foi divertido.
Outro problema é o fracasso quanto ao objetivo (inconsciente) da autodestruição, afinal, as pessoas acordam e precisam voltar para aquele mesmo cotidiano de família, escola, trabalho, igreja… Apesar de não lembrar do que aconteceu durante os últimos excessos, os indivíduos utilizam “a volta ao cotidiano” como pretexto para retornar aos exageros da bebida, do sexo… Alguns acreditam que na próxima vez será (sempre) diferente e melhor.
Assim, é criado um ciclo vicioso (ou virtuoso). Como fugir disto? Não. A pergunta está incorreta. O certo seria: “alguém deseja fugir dos excessos?” Provavelmente, não.
Por quê? Simples: o cotidiano é chato e sem sentido. Na noite, com o álcool, a fumaça e a música alta, as coisas ficam mais bonitas e divertidas. Pode ser uma ilusão. Talvez seja mesmo. Mas quem efetivamente se importa?
O MUNDINHO DO FELIPE
Uma pessoa referiu-se ao meu isolamento como “o mundinho do Felipe”. Interessante. Imagino que cada um deva ter o seu “mundinho”. Mas o que seria isso?
Vejamos uma sequência: indivíduo, bairro, cidade, estado, país, continente e planeta. A mente do indivíduo pode ser o seu mundo, assim como o seu bairro e os outros exemplos citados. A pessoa viveria no “mundo dela”. As barreiras podem ser reais – uma cela numa prisão, por exemplo – ou subjetivas. Sêneca, em outro contexto, afirmou:
“o mesmo cárcere cercou todo mundo, e presos foram também os que prenderam.” (Sobre a Tranqüilidade da Alma, p. 47)
Além do presídio, o indivíduo pode ser condenado a uma prisão domiciliar. Ou seja, não pode sair de sua residência. Ele pode ficar livre durante o dia, mas deve passar a noite na cela. Ele pode ser proibido de deixar o país em que vive. Os limites definem a punição. Qual seria o espaço que uma pessoa necessitaria para viver? Todos conhecem “os cachorros de apartamento”. Os veterinários costumam dizer: tal raça precisa de um espaço assim e a outra precisa de um espaço maior.
No caso do homem, o seu espaço real seria o planeta. Ele não vive fora dele. Nesta perspectiva, o planeta seria seu “cárcere”. Muitos passaram a vida sem deixar o país em que nasceram. Outro limite. Poucos nunca saíram da cidade, conhecem efetivamente apenas aquele lugar e aquelas pessoas (o resto vê na TV, mas como forma de representação e não como algo real, próximo dos seus sentidos). Alguns médicos costumavam dizer que os loucos estavam aprisionados em suas mentes.
Kurt Cobain, falando sobre John Lennon, numa entrevista à revista Rolling Stone, disse:
“Eu realmente senti muita pena dele. Ficar trancado naquele apartamento. Embora ele estivesse completamente apaixonado por Yoko e o filho, a vida dele era uma prisão.”
O homem vive necessariamente numa prisão. Ele não pode ir além de um determinado limite, seja a sua mente, a sua cela (num presídio), a sua cidade, o seu país ou o seu planeta. Ele é livre dentro do espaço em que ele vive. Ele é livre dentro do tipo de prisão em que vive. Pensando em coisas como o planeta ou a morte, de certa forma, todos vivem limitados pelo “mesmo cárcere”.
AS MULHERES FAZEM AMOR E OS HOMENS FAZEM SEXO ?
O facebook é basicamente a união de três ferramentas: orkut, twitter e msn. Assim, ele se aproxima efetivamente do conceito de “rede social”, algo que seria proporcionado pela internet. A frase “eu tenho vida fora do facebook, só não lembro a senha” resume isso. Em outras palavras, com o facebook posso viver o mais próximo da realidade social – o convívio com outras pessoas – sem, no entanto, sair de casa.
Quem me conhece desconfia que esse não seja realmente o assunto que será tratado. É verdade. Quero falar de sexo.
Quando quer fazer sexo com a esposa, namorada ou amiga, um homem normalmente refere-se a expressão “fazer amor”. Ele quer dizer isso mesmo, ou seja, que aquele ato envolve algo mais que o contato entre os corpos, existe carinho. O mesmo homem jamais usa a palavra “amor” quando paga por sexo. Se com a namorada, ele se sujeita – com prazer, aliás – aos charmes dos jogos de sedução, com uma GP (Garota de Programa), tudo é muito objetivo, ele não esconde que está ali para só satisfazer as necessidades do seu corpo, os seus instintos de animal.
Em outras palavras, o mesmo ato, com uma mulher, por ser percebido como “civilizado” e, com a outra, pode ser analisado como “natural”. Isso tem a ver com a famosa frase “as mulheres fazem amor e os homens fazem sexo”. Claro que pelo que foi dito antes, essa frase pode ter o seu apelo, mas não corresponde à realidade, afinal, as relações entre homens e mulheres são muito complexas e devem ser interpretadas caso a caso, ou seja, não existe um modelo geral ou uma receita que garantiria a felicidade numa relação amorosa.
E o que tudo isso tem a ver com a constatação inicial do facebook? Bem, isso será tratado em outro texto.
XUXA & SANDY: POLÊMICAS
Os ídolos não são culpados pelos erros dos jovens e adolescentes. Teoricamente, eles teriam influência no comportamento deles, mas é difícil avaliar a culpa de um equívoco generalizado – como a omissão ou a tentativa de atribuir as suas responsabilidades ao outro.
No Brasil, antes de ser “a rainha dos baixinhos”, a Xuxa namorou o Pelé e posou nua para revistas como a Playboy, Ele Ela e Status (nessa com um leve toque S&M, pois aparece, em algumas fotos, com algemas).
A Xuxa ainda participou do filme “Amor Estranho Amor” (1982), com cenas de nudez e uma tentativa de sedução de um garoto de 12 anos. Se tudo isso ocorresse hoje em dia, os moralistas criticaram os supostos elogios ao S&M e à pedofilia. Mas a época era outra, não havia o “politicamente correto” e ninguém deu importância nem para as fotos nem para o filme.
Quando passou a representar uma referência para crianças e adolescentes, Xuxa tentou negar o passado, mas já era tarde demais.
Em 2011, outra celebridade de crianças e adolescentes gera polêmicas. Trata-se da Sandy. Aparentemente, ele deseja mudar a imagem de menina pura que ficou na mentalidade de todos. Ela é casada, mulher e, parece, quer ser vista como adulta. Entretanto, ela não percebe que maturidade significa responsabilidade, ou seja, um adulto assume o que fala e o que faz. Ela não tem feito isso. Primeiro, foi a polêmica com a cerveja Devassa:
“a cantora Sandy tentou se defender das declarações de que não bebe cerveja, embora seja garota-propaganda da marca Devassa, insinuando que alguns colegas fazem anúncios de produtos que não consomem. Ela chegou a questionar se todo mundo pensa que a Xuxa usa o creme hidratante da Monange e se Luciano Huck e Angélica usam xampu da Niely Gold.” http://www.portalrg.com.br
Recentemente, a Sandy envolveu-se em outra polêmica ao tratar de sexo anal e, mais uma vez, não assumiu os seus atos:
“a cantora Sandy disse que a revista ‘Playboy’ foi sensacionalista ao destacar na capa da edição de agosto uma frase de sua entrevista – ‘É possível ter prazer anal’. Segundo Sandy, a publicação tirou o contexto da frase ao retirá-la de uma resposta da entrevista.” http://www.clicapiaui.com
Se a Sandy bebe cerveja ou gosta de sexo anal, é problema exclusivo dela. Querer usar essas referências em seus discursos nos meios de comunicação de massa, passa a ser um problemática que interessa aos outros. A sua dissimulação é um péssimo exemplo para aqueles jovens que ainda a enxergam como um modelo a ser seguido.
De fato, os casos da Xuxa e da Sandy demonstram que elas subestimam a inteligência do público, na medida em que querem esconder o passado ou tentam manipular o que dizem em entrevistas. Talvez acreditem que sejam efetivamente especiais e que tenham poderes para iludir a audiência o tempo todo. São ingênuas e reforçam o preconceito de muitos adultos quanto aos seus nomes.
UMA ESTRANHA FORMA DE AMOR
Michel Foucault fez um seminário interessante me 1982. Contudo, a minha intenção, aqui, não é discutir o seminário.
Quero refletir sobre uma pergunta – “o que somos nós hoje?” (Dits et Ecrits, p. 1653) – e sobre uma afirmação de que seríamos “indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros: criminosos, loucos, etc.” (Para quem quiser saber mais sobre a perspectiva de Foucault, basta ler os livros “Vigiar e Punir” e “História da Loucura.)
No que diz respeito à pergunta – “o que somos nós hoje?” -, o “hoje” demonstra que a definição do homem depende da sua época histórica. O que eu sou, o que é certo ou errado, depende da sociedade em que vivo. Isso muda de sociedade para sociedade e de época para época. As definições e os valores são inventados pelas pessoas de acordo com suas necessidades.
Aqui aparece a afirmação de Foucault – “somos indiretamente constituídos pela exclusão de alguns outros“. Por quê? Para existir, eu preciso negar a existência do outro. Para dizer que sou normal, preciso identificar alguém como anormal. Para valorizar a minha liberdade, preciso que outros estejam presos.
Preciso me sentir especial, exclusivo e escolhido. Para me sentir assim, devem existir os excluídos. Nesta perspectiva, a valorização da minha felicidade dependeria da infelicidade dos outros. Assim, seria possível compreender por que certas pessoas não suportam a felicidade do outro.
Qualquer indivíduo já teve a sensação de que o seu prazer incomodaria outras pessoas próximas e elas imediatamente fariam comentários de censura quanto à sua felicidade ou inventariam obrigações que não estavam planejadas para aquele momento.
Em outras palavras, parece que o objetivo dessas pessoas é transformar o seu cotidiano num inferno! E o pior é que elas dizem que fazem isso – censura, repressão, etc – porque se preocupam com você! Tentam transformar sentimentos negativos – inveja, ciúme, rancor – em algo nobre – como o altruísmo.
O que complica ainda mais o processo é que as pessoas que agem assim não percebem conscientemente o mal que estão fazendo aos outros. Acreditam que amar significa fazer o outro sofrer! Acham, equivocadamente, que o ciúme e a inveja são essenciais numa relação amorosa. Fazem tudo para destruir aquilo que, dizem, mais amam.
Trata-se, no mínimo, de uma estranha forma de amor. De fato, existe um confusão: o que essas pessoas sentem é ódio, mas não conseguem admitir tal sentimento, então acreditam no impossível: a finalidade é o amor e os meios para realizá-lo seriam a repressão, a inveja, o ciúme e o sofrimento.
SUICÍDIOS E CULPADOS
Eu odeio pedófilos. Eles raramente são presos. Suas filhas molestadas suicidam e nada acontece. Se as garotas denunciam – e isso é raro – costumam não ser levadas a sério.
Um exemplo disto foi o caso de Ashley Billasano, que suicidou aos 18 anos (em 2011).
“Ela procurou as autoridades e os dirigentes da sua escola para denunciar o que havia acontecido com ela, mesmo assim as suas reclamações não tiveram resposta prática alguma”.
Um detetive chegou a dizer que “tinha dificuldade em acreditar na garota,” inclusive, ligaram para ela para dizer que “não havia evidências ou provas suficientes” para o caso dela.
Antes de suicidar, Ashley Billasano “postou 144 vezes durante 6 horas no seu twitter, que tinha mais de 500 seguidores, explicando como ele havia sido molestada e até forçada a se prostituir, antes de cometer suicídio. Ninguém tentou impedi-la.”
Em um depoimento, a sua melhor amiga, Escamilla, afirmou:
“Continuar vivendo quando alguém te machuca e ninguém faz coisa alguma a respeito – isso não deixaria a pessoa louca? Sentir-se ignorada por pessoas que deveriam te ajudar. Isso é loucura.”
O irônico é que tudo que ela postou no twitter foi removido. A preocupação da polícia era que o caso dela não servisse de exemplo para os outros. Parece piada, afinal, as autoridades deveriam punir os molestadores e não deixar apagar as provas e a memória da vítima.
*As citações foram retiradas do website: http://www.therundown.tv/headlines/just-in/teen-girl-commits-suicide-after-posting-144-times-on-twitter/